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Os adolescentes e a construção dos valores

Mirian P. Zippin Grinspun

UERJ- Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Cristina Novikoff

UNIFOA - Centro Universitário de Volta Redonda

Patrícia Maneschy

UNSS - Universidade do Severino Sombra

Rosa Maria M. Ramos

UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Apoio: Fundação Oswaldo Aranha FOA


RESUMO

O presente texto é resultante de 5 anos de investigação do grupo de pesquisa Jovens e Valores do programa de pós-graduação em educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro acerca dos valores dos jovens no contexto atual. Privilegiou-se a relação alunos-valores em suas diferentes e distintas dimensões articuladas ao imaginário social escolar. O objetivo foi compreender de que modo os alunos configuram seus valores. Ancorou-se na fundamentação teórica de Castoriadis (1982), e Hessen (1980). Partiu-se do pressuposto de que a aquisição e construção dos valores se dão em termos histórico-sociais. Aplicaram-se instrumentos de pesquisa diferenciados além dos questionários semi-estruturados. As análises revelaram as relações simbólicas sofríveis dos alunos com a sociedade, o mercado e a escola. Espera-se contribuir com a reflexão para a realização de uma proposta pedagógica que viabilize a investigação do imaginário do cotidiano escolar possibilitando as construções de práticas simbólicas para realização de valores coletivos.

Palavras-chave: Valores; Imaginário Social; Escola

SUMMARY

The adolescents and the construction the values

The present text is resultant of 5 years of inquiry of the group of research Young and Values of the program of after-graduation in education of the University of the State of Rio de Janeiro concerning the values of the young in the current context. It was privileged relation students-values in its different and distinct dimensions articulated to social imaginary pertaining to school. The objective was to understand of that way the students configure its values. It was anchored in the theoretical of Castoriadis (1982), and Hessen (1980). It began of estimated of the acquisition and the construction of the values if it gives in description-social terms. Differentiated instruments of research beyond the half-structuralized questionnaires had been applied. The analyses had disclosed the reasonable symbolic relations of the students with the society, the market and the school. One expects to contribute with the reflection for the accomplishment of a proposal pedagogical that makes possible the inquiry of imaginary of the daily pertaining to school making possible practical constructions of symbolic for accomplishment of collective values.

Word-key: Values; Imaginary Social; School

RESUMEN

Los adolescentes y la construcción de los valores

El presente texto es resultado de 5 años de la investigación del grupo de investigación Jóvenes y Valores, del programa de postgrado en educación de la Universidad de Río de Janeiro acerca de los valores de los jóvenes en el contexto actual. Se privilegió la relación alumnos-valores en sus diferentes y distintas dimensiones articuladas al imaginario social de la escuela. El objetivo ha sido comprender de qué manera los alumnos configuran sus valores. Se apoyó en la fundamentación teórica de Castoriadis (1982), y Hessen (1980). Se partió del presupuesto de que la adquisición y construcción de los valores se dan en términos histórico-sociales. Fueron aplicados instrumentos de evaluación diferenciados y cuestionarios semi-estructurados. Los análisis rebelaron las relaciones simbólicas sufribles de los alumnos con la sociedad, el mercado y la escuela. Se espera contribuir con la reflexión para la realización de una propuesta pedagógica que valorice la investigación del imaginario del cotidiano escolar y que posibilite la construcción de prácticas simbólicas para la realización de valores colectivos.

Palabra-clave: Valores; Social Imaginario; Escuela


Apresentação

Em todos os momentos de nossa vida as ações que praticamos, as situações que participamos, as atitudes que tomamos, os sonhos e desejos que idealizamos estão carregados dos valores eleitos ou sinalizados para a opção que realizamos ou que gostaríamos de realizar. Esses valores frutos de uma decisão pessoal, na verdade, são em termos escolhidos por nós, uma vez que eles se constituem e são produzidos pela própria cultura e pela sociedade em que vivemos.

Miriam Paura Z. Grinspum, 1999

As questões de ordem políticas educacionais e de mercado que organizam a sociedade brasileira são incompatíveis entre si e geradoras de descrenças nas instituições como se pode conferir nas escolas.

A escola, aqui é entendida não só como estrutura física deficitária, mas um complexo organizado com seus sujeitos, currículos, programas, pais, alunos que como participantes diretos ou não, sustentam o imaginário criado do que é e de como deverá funcionar essa instituição. E, é neste contexto que muitos jovens1 que, em detrimento de valores instituídos nas e pelas escolas de ensino médio vêem seus sonhos de estudar para garantir trabalho desfeitos diante do conteudismo escolar e do modo de se fazer a educação. Daí, dizer que um dos fortes motivos da evasão ou abandono da escola é a dissonância valorativa entre os adolescentes e a escola.

O número dos adolescentes brasileiros, estimado em 17 milhões no ano 2003, segundo o IBGE2 contrasta com o baixo percentual de 36,55%, aproximadamente, de adolescentes na faixa etária de 15 a 19 anos matriculados no ensino médio em 2002. Portanto, não devemos ignorar esta população que se encontra em período de grande capacidade de abstração e produção cultural, intelectual, cientifica e outras e, que se encontra fora da escola, aumentando o que se pode denominar de “mentes desperdiçadas” e, impactando o desenvolvimento do país.

O entendimento das escolhas dos adolescentes, o que pensam, quais são os seus valores, faz do presente tema uma questão importante para aprendermos a lidar com um futuro não tão jovem, mas, necessariamente, trabalhado pelos adolescentes de hoje. Considerando este contexto social, onde os adolescentes/jovens tem sido uma fonte geradora de inúmeros textos, pesquisas e programas políticos, assinalando uma preocupação das instituições que formam a sociedade, tanto a nível privado quanto público, em especial, a sociedade acadêmica a quem cabe educar os jovens, indica ser imprescindível a identificação dos valores que permeiam suas escolhas e comportamentos. Isto porque mesmo com o crescente volume de textos e de programas voltados para os jovens, não aumentaram significativamente a procura por escolas regulares.

Os adolescentes oriundos dos diferentes segmentos da sociedade vêm esboçando seus valores através da linguagem estabelecida na mediação simbólica que é elaborada pelo imaginário tanto individual quanto coletivo diferentemente do que se pretende a escola. Um exemplo comum às escolas é com relação à avaliação. Se a escola a faz por considerar importante para verificar a construção do conhecimento e, assim o valor foca a lógica do aprendizado. Já para o adolescente muitas vezes é de ameaça a identidade, a auto-imagem, daí burlar, ameaçar o professor entre outros. Então, o valor dado é em relação ao peso da nota, a lógica da sobrevivência.

Nesta percepção valorativa, o imaginário como forma de criação vêm respondendo por um determinado movimento social que cabe ser interrogado na perspectiva de encontrar caminhos para equacionar o problema da crise axiológica e paradigmática existente na escola de ensino médio.

O foco de atenção da presente pesquisa que gerou este texto, ou seja, os adolescentes e a construção de valores no cotidiano escolar, com um olhar sensível sobre as mediações praticadas em razão do imaginário instituinte revela uma das facetas da história atual em relação sua inclusão e permanência na escola.

Afirma-se, assim, que os valores enquanto parte do tecido do imaginário do sujeito e da sociedade, se situa como sendo instituído/produto e instituinte/processo da história e contexto de origem. Cabe assinalar que a identificação de valores, que tem permeado as escolhas dos adolescentes é criação do imaginário que no adolescente tem como uma representação de construção dinâmica e ambivalente e, por isso mesmo, conflitante com a acomodação da sociedade atual sustentada por valores individualistas.

Em síntese busca-se Agnes Heller, que aponta a história como sendo a substância da sociedade e que esta substância não contém apenas o essencial, mas também a continuidade de toda a estrutura social que é muito heterogênea, assim como a continuidade dos valores. Há um movimento, então, de surgimento de várias esferas na sociedade como a produção, a moral, a filosofia a política que já implicam num fenômeno axiológico, na medida em que surge um determinado modo de produção, uma determinada moral, um determinado sistema filosófico, uma determinada corrente política, o que mostra, como diz Heller, uma “história de colisão dos valores de esferas heterogêneas”. Daí a relevância de seu entendimento para a escola - uma instituição social de/para valores.

Os valores: breve entendimento

Na perspectiva de J. Hessen (1980: 38) o valor é analisado sob três abordagens sem definição rigorosa. Uma que considera o valor como a vivência de um valor, ou seja, o valor é objeto de uma experiência, de uma vivência; outra forma de entendimento refere-se a qualidade de valor de uma coisa. Assim sendo, se “atribui valor”; e, a terceira abordagem pontua a própria idéia de valor em si mesma, isto é: dependem de juízos de valor.

Em poucas palavras, o conceito de valor para J. Hessen pauta-se na idéia de que “(... ) não pode rigorosamente definir-se. Pertence ao número daqueles conceitos supremos, como os de “ser”, “existência” etc, que não admitem definição. Tudo o que pode fazer-se a respeito deles é simplesmente tentar uma clarificação ou “mostração” do seu conteúdo. (p.37)”. J. Hessen (2000), onde da uma interessante classificação dos valores que determinar o nível de superioridade e/ou inferioridade, delineando a seguinte organização:

Do ponto de vista formal

Do ponto de vista material

O critério para a hierarquização/altura dos valores propostos por Scheller (in Pereira, 2000:87), diz que um valor tanto é mais alto quanto considerar os critérios de durabilidade, divisibilidade, fundamentação, satisfação e relatividade que são comentadas a seguir.

A durabilidade dos valores é marcada pela permanência prolongada dos valores, onde a duração é “um fenômeno temporal, absoluto e qualitativo(...)é um modo positivo dos conteúdos chegarem ao tempo(...)”p.88 .

A divisibilidade diz da condição de pouco se tornarem divisíveis. Um dos exemplos ressaltados por Scheller in Pereira (2000:88) diz da obra de arte que pode “ser contemplada por infinidade de pessoas; por mais que eu a contemple, a minha contemplação não impedirá que mais pessoas contemplem a beleza da obra”

Já o critério de fundamentação é aplicado para verificar se o valor serve de referência para outros valores ou se necessita de valores para referendar-se. Os primeiros serão mais altos/superiores que os segundos.

Quanto à profunda satisfação de realização, vale ressaltar que a profundidade do valor entra em cena e separa os sentimentos ingênuos como a alegria de um passeio e o de algo mais profundo como a satisfação de algo na esfera da vida intima.

O grau de relatividade indica que um valor será mais alto quanto menos for sua relatividade em relação ao seu portador.

Pautada em Novikoff, 2002, far-se-á o uso da seguinte classificação dos valores dos jovens:

A perspectiva filosófica adotada neste texto é associada a verificação psicossocial da regulação do conhecimento e sua relação com os valores, portanto, entende-se aqui, “o valor não sendo um ser em si, nem um desejo ou sentimento de bom ou mau, mas algo que surge, emerge ou institui-se na/pela subjetividade a partir da relação do sujeito com as coisas, com o mundo em especial consigo mesmo” (Novikoff,2002). Daí poder assinalar que o valor é um importante elemento do magma que forma o imaginário social e, portanto da subjetividade. Tal elemento subjetivo favorece a objetivação, ou seja, os valores dos adolescentes criados a partir dos valores sociais e vividos nas escolas provocam a adaptação-acomodação ou adaptação-enfrentamento do mundo.

O imaginário social instituinte e os jovens

Para tratar do imaginário social instituinte inicia-se pelo entendimento do termo significado ancorado em Castoriadis (1982), ou seja, é operante por agir na prática da sociedade, sendo considerada como sentido organizador do comportamento humano e das relações sociais, independentemente da consciência que disto tenha a sociedade.

Cabe, aqui, o entendimento do termo instituição, que Castoriadis (1982:159) define como sendo “uma rede simbólica, socialmente sancionada, onde se combinam em proporções em relações variáveis um componente funcional e um componente imaginário”. Tal rede se afirma na medida de sua sustentação pela lógica que os indivíduos utilizam para pensar e operar. Daí questionar qual a lógica empregada nas escolas que afastam os jovens delas? Quais os valores que a cercam? Quais os valores dos jovens sobre a escola? A importância conceitual e acadêmica dessa instituição é de extrema importância por dois motivos. A saber:

O primeiro por representar uma nação com seus ideais de ser humano, de desenvolvimento e de sociedade. Aqui não há espaço para tratá-los, mas se faz necessário colocar os três elementos instituídos pela sociedade para entender que a lógica dos jovens frente à escola está eivada dos valores dados a esses elementos. Segundo, por ser uma instituição voltada para a formação do sujeito por meio do conhecimento presentifica a sociedade através de seus conteúdos e práticas. Assim sendo, ao desvelar os valores dos jovens estar-se-ia desvelando um pouco do que a escola está sustentando da própria sociedade. A tarefa de desvelar os valores é árdua, mas é possível se consideramos que a linguagem – fonte de simbolismo – é utilizada para materializar o pensamento e pode ser estudada. Mas antes de aprofundar tal aspecto é preciso dizer do que se entende por imaginário que, mais uma vez, se ancora no autor da vertente epistemologia dialético-fenomenológica que se adotou para o presente texto. Portanto, o imaginário de que se fala é de Castoriadis, para quem insiste em afirmar que não é fantasia ou irrealidade, mas é entendido como fonte de criação, capacidade de dar-se por imagens. Essa idéia é, também, a que Córdova (1994:27) ao interpretar o francês sintetiza como sendo “algo que introduz o novo, constitui o inédito, a gênese ontológica, a verdadeira temporalidade, a posição de novos sistemas de significados e de significantes, presentifica o sentido”. Nesta perspectiva, o imaginário assume uma função do racional.

Em relação às significações imaginárias sociais – SIS, assinalada por Castoriadis, deve se diferenciar das teorias estáticas de representações, pois as SIS não existem sob a forma de representação, podendo apenas ser captadas “de maneira derivada e oblíqua” na separação que é impossível de se determinar, entre a sociedade com seu modo de organização/vida e a concepção que se concebe de “maneira estritamente funcional-racional” desta organização/vida. Deste modo, estar-se-ia provocando “deformações coerentes” que engessariam as relações entre o real, o racional e o simbólico.

As significações imaginárias sociais não são diversos tipos de significações, nem de sentido, nem de sentido subjetivamente visado, mas são imanentes/constante, permanente, perdurável à sociedade cada vez consideradas. Noutras palavras, “são cada vez o que são e tais como são, por sua imersão na sociedade global (Castoriadis, 1982:412)

O papel das significações imaginárias sociais instituinte está no fazer o rompimento com o instituído na medida em que isso signifique contestação, oposição no seio da sociedade, promovendo a autonomia. Para tal é preciso o distanciamento e a crítica do instituído. Assim sendo, dar-se-á a primeira fissura do imaginário instituído. Este posicionamento crítico e de sulcar o já posto como pensamento deve ser objeto do pensar institucional, pois aí é o seu lugar primeiro.

Enquanto lugar a escola ocupa vários, como nos mostra Grinspun (2001:111)

(..) a escola não é um ente abstrato; ela é uma instituição da sociedade (com suas contradições e tensões), que é e ao mesmo tempo ocupa espaço, com muitos lugares, pessoas e relações. Ela tem uma organização desses “espaços lugares” que é constituída das relações sociais, através do processo de trabalho. Trabalho dos e com os alunos, professores, funcionários, etc. A Escola tem vários “lugares”: os dos alunos, os dos professores, os dos funcionários, etc. A Escola, portanto, é um lugar de vários lugares.

Vale apontar que apesar dos lugares esses não são estáticos, mas dinâmicos e se remetem e precisam ser pensados. No presente texto pensam-se as características do lugar que compõem o universo de formação do sujeito e apontam para a necessidade de um novo sentido à escola de assumir a sua função educativa que lhe compete - de apresentar as características de seus alunos, a fim de propor um programa que permita ensinar além dos conteúdos, as ações/ intervenções interna e externa no sujeito.

O lugar da escola para além dos conteúdos deve provocar o pensar não como pensamento instituido, mas apesar e com ele a reflexão que imprima a critica e permita surgir a autonomia. Assim, com esse agir-pensar possa ser um espaço de inclusão e manutenção que se permite ou a aquisição e a construção de conhecimentos sistematizados, estabelecendo a sua responsabilidade de adotar uma postura cultural de garantir acesso ao conhecimento e de valores estruturantes da sociedade humanizadora. Este pode se dar através de linguagem comunicativa e não se limitar na instrutiva, ou seja, construir um espaço simbólico que garanta o rompimento com ontologia herdada. Daí dizer que deve colocar o modo de pensar e operar oportunizando os jovens a expressão do imaginário pela ação-reflexão-ação.

Caminhos metodológico da pesquisa

Considerando a idéia de que Pesquisa qualitativa norteada pela quantidade suficientemente adequada para fundamentar e apresentar o universo estudado esta pesquisa baseou-se na metodologia interdisciplinar e na análise de conteúdo de Bardin (1977).

A realização da pesquisa foi junto a alunos do ensino médio nas escolas de ensino médio do município de Volta Redonda, no estado do Rio de Janeiro. Em síntese, a metodologia adotada na presente pesquisa originária do texto em tela foi a qualitativa, do tipo descritiva de campo ocorrida em três escola e participativa em uma escola. Foram aplicados 500 questionários com 30 itens e, realizadas, 4 dinâmicas de grupo. Estudaram-se os currículos e os projetos pedagógicos das escolas em questão. Foram filmados e fotografados alguns momentos da pesquisa. Estes espaços abrangeram as redes de ensino particular e pública na tentativa de se trabalhar com alunos na sala de aula, de realidades de poder sócio-econômico diferenciados.

Para atender ao caráter interdisciplinar da presente pesquisa norteada pela complexidade teórico-metodológica, busca-se Spink (1993):

A complexidade do fenômeno decorre da demonstração, no nível teórico, da falsa dicotomia entre o individual e o coletivo e do pressuposto daí decorrente de que não basta apenas enfocar o fenômeno no nível intra-individual (como o sujeito processa a informação) ou social (as ideologias, mitos e crenças que circulam em uma determinada sociedade). É necessário entender, sempre, como o pensamento individual se enraíza no social (remetendo, portanto, às condições de sua produção) e como um e outro se modificam mutuamente.(p.89)

Com isto se estabeleceu a leitura de realidades diferentes no que se denomina espaço público e particular, individual e coletivo. E, para tal, foi feita a combinação de diferentes níveis de análise para enriquecimento da compreensão do fenômeno, ou seja, a busca da compreensão dos núcleos mais estáveis das representações sociais. A reunião de material simbólico a respeito do tema, foi por meio de observação e entrevistas com roteiros semi-estruturados. Realizou-se análise de conteúdo, visando detectar os conteúdos latentes não revelados por levantamentos feitos com escalas de atitudes convencionais. E, após sua análise fez-se um retorno aos grupos para confirmação dos resultados.

Aplicou-se, também, um questionário semi-estruturado com a intenção de analisar os valores como produto e processo do contexto social - histórico em questão.

O trabalho de análise continua e o que se apresenta é parte desse material. Vale esclarecer que os dados estão sendo reavaliados e, muitos já foram reconfirmados, por meio de entrevistas focais, o que favorece a descrição de seus resultados a seguir.

Análise dos dados

Os dados apresentados indicaram conhecimentos e afetos dos jovens em relação a escola e a sua própria identidade enquanto jovem. O entendimento do que seja ser jovem que para a maior parte dos respondentes, 36,83%, pesquisados, é “defender suas idéias”. Em segundo lugar vem a idéia de que é ter preocupação com o futuro, totalizando 25,61% das respostas. Ao mesmo tempo, é pensar no presente com 23,34% do grupo.

As formas de cultura que os jovens mais “curtem” são a música (56,87%) e o esporte (34,99%). E 75,6% dizem fazer parte de um grupo de amigos onde são todos muito amigos.

As características que se auto-identificam são “responsável” (33,75%) e 30,29% como bem humorado para os meninos e meninas.

Em relação aos assuntos de maior interesse, o sexo é o que os jovens mais gostam de discutir, totalizando 26,76%. Para as meninas a ordem de interesse é amigos (13,71%), sexo (9,92%) e drogas (8,75%). Para os meninos sexo (16,84%), esporte (13,84%) e amigos (11,36).

Já o interesse pelo tema “política” está subdividido entre os jovens, 50,26% deles disseram que se interessam pelo assunto. Analisando as questões sobre o tema “Política”, viu-se que os meninos discutem mais sobre o tema do que as meninas, onde somente 4,05% das mesmas optaram por essa alternativa. Já a crença em Deus é apontada por 96,21% dos jovens. E, 83,94% têm religião.

O tema trabalho é visto como sendo “realização pessoal” para 36,16% dos meninos e como “independência financeira” para 32,9% das meninas.

Em relação ao apoio esperado para realizações pessoais, 88,12% dos meninos apontam a família como sendo “necessária”. Já as meninas esperam apoio de amigos (31,46%).

A referência social dos jovens indica que 73,89% dos jovens têm ídolos. Mas para 38,40% dizem ser seus pais (figura paterna) o ídolo e referência, apesar de 42% não terem mais pai ou não conhecem o pai.

Como principal problema da atualidade, 20,89% dos meninos apontam a AIDS e 19,19% o dinheiro. As meninas destacam as drogas 17,36% e 14,23% o dinheiro.

Os entrevistados ao responderem sobre o que é ter felicidade, também se diferenciam, onde os meninos (65,03%) acham que “felicidade” é ter uma família e, as meninas se dividiram entre ter saúde (28,72%) e ter amigos (24,28%). No compito geral 20,29% dos mesmos acham que a saúde vem em primeiro lugar, e somente 1,29% deles acham “ter dinheiro”.

É interessante notar que o sexo é visto como importante para 49,87% dos jovens e muito importante para 39,3% desses. Os meninos entendem o sexo como “amor” (79,9%) e as meninas como “necessidade” (25,46%) e “auto-afirmação” (13,05%). E deve ser encarado com “responsabilidade” (50,65%) e “prazeroso” (34,46%) para os meninos e (40,06%) “prazeroso” e 31,98% com “responsabilidade” para as meninas. Mas a preocupação em relação ao sexo é DST (45,82%) e gravidez indesejada (42,56%) para meninos e DST (30,94%) e gravidez indesejada (38,51%) para as meninas. Em síntese a preocupação são as doenças sexualmente transmissíveis e a gravidez indesejada, o que representa 88,64% das respostas.

A maior preocupação dos jovens é com a “violência” (53%) e o “trabalho” (10,7%) para os meninos. Essa ordem se inverte tendo o “trabalho” (18,41%) e (14,75%) “violência” como as preocupações indicadas pelas meninas. Ambos apontam que as drogas (67,89%) é seu principal motivo.

Observou-se que 44,39% doa meninos entendem a escola como “lugar de adquirir conhecimentos” e 11,1% como “preparação para o trabalho”. Já 24,54% das meninas entendem como “preparação para a vida” e 20,76% delas de “preparação para o trabalho”. 36,83% dos alunos acham que o melhor na escola é a aula. Mas, 32,77% dos mesmos, citam o fato de encontrar amigos e somente 1,73% acham que a recreação é o melhor na escola. A atuação do esporte na escola, também é um fator significativo para os jovens. As aulas mais valorizadas são as que apresentam fatos do cotidiano e os professores que apreciam são os que falam da televisão e demonstram sinceridade.

Algumas expressões comuns durante a aplicação dos questionários e entrevistas: “Você viu o que apareceu na novela? E´ tudo igual ao jornal, tudo é mentira...não acredito em políticos”. “Os meninos são brigões”, “As meninas, que são é mulher, são cheias de armação para casar”. “A Aids é muito ruim professora...”

Aparecem referências ao sexo oposto em tom de briga por parte das meninas e de prazer por parte dos meninos.

Em relação às categorias de análise abstraídas da pesquisa partiu-se das respostas dos sujeitos para gerar as categorias molares e moleculares (Franco, 2003), gerando a tabela abaixo:

Tabela 01: Valores dos adolescentes na atualidade

As frases de impacto citadas como referência para iniciar a entrevista em grupo que confirmaram os valores acima:

“A família é o impulso (a mola) para os setores em sua vida”

“Acreditar que tudo acontece só pela vontade de deus”

“Estudar para ter melhor condição de empregabilidade no mercado”

Ao disparar a entrevista com as frases de impacto retiradas do próprio questionário foram ouvidos os alunos em grupo de 6 a 8 e seus resultados confirmaram os valores do quadro 01 acima, e geraram um discurso midiático com comparações com novelas, filmes, propagandas e jornais que aqui não caberia toda sua discussão, daí descrever algumas frases derivadas dessa entrevista:

“As meninas estão se pintando igual a atriz da novela”

“Os meninos não querem compromissos sérios...só querem ser o Van Dame”

“Todo mundo na minha casa assiste novela, eu só vejo as da seis e no sábado porque eu estudo a noite”

“No jornal apareceu o roubo da merenda...não acredito em políticos”

“Se mostrasse (tv) mais sobre Deus não aconteceria tudo isso”

“No domingo eles só querem ver futebol”

“Gosto de me arrumar e quero ter dinheiro para comprar minhas roupas e não depender de ninguém, igual as atrizes, e daí?Mas quero ter família um dia”

“ A tv está ensinando a engravidar para prender marido ou ganhar dinheiro”

“A escola devia ensinar outras coisas mais úteis”

“Meu trabalho depende de mim não da escola”

“Quero me formar e trabalhar para ganhar dinheiro, comprar um carro e outras coisas”

“As aulas são chatas, mas tem professor legal que conversa com a gente”

“Eu estudo só pra fazer a prova quando não dá pra colá”

“O bom mesmo é encontrar os colegas, ficar com o namorado...”

Observou-se que os discursos estão norteados pela mídia e família que, também, carrega o discurso dessa mídia, portanto, a escola fica deslocada do contexto vivido e desejado. Ela deixa de ser o meio de construção do conhecimento necessário para os valores desejados para ser apenas um lugar onde tem que se ir, mas não para aprender o conhecimento acadêmico, apenas o do colega, dos que falam do cotidiano de seus afetos e valores.

Em síntese, os dados apontam para a inferência de que a:

1. cultura familiar é a mais presente nos dados coletados, assim sendo:

2. A cultura midiática é presente nos dados coletados, assim sendo:

3. A visão de futuro está ligada aos fatos imediatos e sem ligação com o “amanhã”:

4. Em relação aos sentimentos de coletividade:

5. Quanto à sexualidade:

As inferências resultantes dessa pesquisa consideram as preliminares de que a Lei n.º 9394/96 apresenta a questão dos valores, em termos do que deve ser de forma muito explícita, seja na questão dos princípios e fins da educação nacional ou na especificidade dos artigos que tratam dos níveis e modalidades da educação e do ensino. Portanto, deixa claro que os valores deverão merecer um tratamento diferenciado para que o aluno tenha a oportunidade de aprofundar-se nesta relação; assim como no art. 35, relativo ao Ensino Médio, verificamos que entre as suas finalidades está a do “aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico“. Assinala-se, aqui, que esta e outras finalidades só serão atingidas se pudermos colocar em disponibilidade meios e estratégias para sua efetivação. A questão dos valores ultrapassa o seu reconhecimento para se juntar aos procedimentos que devemos utilizar na sua experimentação e adoção.

Duas preocupações estão inseridas nesta pesquisa:

1ª - quais são os valores que os jovens possuem hoje, considerando este momento caracterizado pelos aspectos da globalização, da política néo-liberal, dos avanços científicos, das transformações na sociedade que interferiram de modo significativo no seu desenvolvimento pessoal/ social, em termos da sua própria subjetividade?

2ª - como a escola alimenta os valores que o jovem escolhe ou, em outro sentido o que a escola faz para promover o surgimento e permanência de valores que ela considera desejável?

Em síntese, a análise dos dados remete-nos para a necessidade de pensar na possibilidade de se ensinar-aprender valores na escola.

Percebe-se a necessidade da escola proporcionar ao jovem as condições em que ele possa ressignificar a sua realidade, construindo a sua identidade baseada em valores que permitam a sua formação de forma mais efetiva, considerando os aspectos cognitivos e afetivos e, voltando-se para uma sociedade mais participativa.

Conclusão

A Escola que tem por finalidade sistematizar e operacionalizar a educação compromete-se, também, com as questões dos valores na medida que ao elaborar sua proposta pedagógica já indica, seleciona, um currículo com os seus procedimentos metodológicos e a avaliação pertinente. Complementa esta observação a dimensão educativa, portanto valorativa, existente nas relações interpessoais que se desenvolvem na escola.

Os valores correspondem a uma determinada objetivação da experiência social e representam tanto o fato em si, como as aspirações e interesses inerentes no imaginário que dele fazem parte.

Portanto, pode-se concluir que os dados encontrados nesta pesquisa, visando delinear o imaginário do adolescente/jovem sobre a escola, hoje, apontam algumas tendências que permitem ensaiar inferências educacionais que contribuam para a abordagem de propostas de aprendizagem, de teor significativo, para essa etapa essencial do desenvolvimento humano.

Cabe a escola compreender que idéias são norteadoras do conhecimento dos jovens, quais valores eles estão configurando seu imaginário e, daí pensar junto com eles o que pode ser trabalhado por uma educação humanizadora.

REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA

Notas

1. O termo “jovens” é empregado como sinônimo de adolescentes no que se refere à análise, aqui, a psicossociológica. Já o termo adolescentes é utilizado para dar simultaneamente, o corte cronológico em debate, ou seja, de 15 de 19 anos e o estatuto teórico da psicanálise. Cabe esclarecer que não são entendidos como diferentes ou excludentes, mas complementares. Daí utilizar em alguns pontos a expressão adolescentes/ jovens. Regresar al texto

2. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística / Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios / Indicadores Sociais 2003: população entre 15 a 19 anos: de 17 250 730 apontados para um total de 169799170 brasileiros. As matriculas no ensino regular “Número de Matrículas no Ensino Médio, por Faixa Etária, segundo a Região Geográfica e a Unidade da Federação, em 27/3/2002 apresenta um total matriculado no Brasil de 8.710.584 . Na faixa etária de 14 a 17 anos de idade têm-se 4.161.691 e de 18 a 19 anos têm-se 2.144.388. Regresar al texto





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