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Aplica��o do Psicodrama Pedag�gico na Compreens�o do Sistema �nico de Sa�de: Relato de Experi�ncia

Annat�lia Meneses de Amorim Gomes

Secretaria da Sa�de do Cear� (Brasil)

Concei��o de Maria de Albuquerque

NAMI - UNIFOR (Brasil)

Escol�stica Rejane Ferreira Moura

Universidade Federal do Cear� � UFC (Brasil)

Luiza Jane Eyre de Souza Vieira

Universidade de Fortaleza � UNIFOR. Instituto Dr. Jos� Frota. (Brasil)


Resumen

Aplicaci�n del psicodrama en la comprensi�n del Sistema �nico de Salud: relato de experiencia.

Se trata de un estudio descriptivo � explorador, que ha tenido como objetivo la identificaci�n de los resultados de la aplicaci�n del psicodrama pedag�gico como referencial para el aprendizaje acerca del Sistema �nico de Salud. Los datos se originan del convivio en un seminario tem�tico que se ha desarrollado como parte de la asignatura de Pol�ticas y Pr�cticas de Salud, del Master de Educaci�n en Salud de la Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Los resultados han evidenciado que la aplicaci�n del psicodrama pedag�gico ha facilitado la comprensi�n del SUS por parte de los alumnos de este grupo de Master. Integraci�n, afectividad, ingeniosidad, relajaci�n, motivaci�n, participaci�n, conexi�n entre teor�a y pr�ctica y el ponerse en lugar del cliente han sido aspectos favorables al aprendizaje, potencializados por el uso del psicodrama. Se recomienda que otras experiencias se reproduzcan siguiendo este referencial, de manera a desafiar el paradigma de la ense�anza tradicional: controladora, estricta y limitada.

Palabras - clave: Ense�anza, Psicodrama, Sistema �nico de Salud.

Aplica��o do psicodrama pedag�gico na compreens�o do Sistema �nico de Sa�de: relato de experi�ncia.

Resumo

Trata-se de estudo descritivo-explorat�rio, que teve como objetivo identificar as repercuss�es da aplica��o do psicodrama pedag�gico como referencial para aprendizagem sobre o Sistema �nico de Sa�de. Os dados foram oriundos da viv�ncia de um semin�rio tem�tico desenvolvido como parte da Disciplina Pol�ticas e Pr�ticas de Sa�de, do Mestrado de Educa��o em Sa�de da Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Os resultados constataram que a aplica��o do psicodrama pedag�gico facilitou a compreens�o do SUS por parte dos alunos desta turma de mestrado. Integra��o, afetividade, criatividade, descontra��o, motiva��o, participa��o, conec��o entre teoria e pr�tica e colocar-se no lugar do cliente foram aspectos favor�veis � aprendizagem, potencializados pelo uso do psicodrama. Recomenda-se que outras experi�ncias sejam reproduzidas seguindo este referencial, de maneira a desafiar o paradigma do ensino tradicional: controlador, r�gido e limitado.

Palavras-chaves: Ensino, Psicodrama, Sistema �nico de Sa�de.

Pedagogic psychodrama application in the understanding of the health public system: an experience report.

Abstract

This is an exploratory descriptive study, that had as objective to identify the repercussions of the pedagogic psychodrama application as referential for learning on the Public Health System (SUS). The data were originating from the existence of a thematic seminar developed as part of the Subject Politics and Practices of Health, of Masters in Health Education of the University of Fortaleza (UNIFOR). The results verified that the pedagogic psychodrama application facilitated the understanding of SUS for the students of this masters course group. Integration, affectivity, creativity, outgoingness, motivation, participation, connection between theory and practice and to place in the customer's place was favorable aspects to the learning, potentiated for the use of the psychodrama. It is recommended that other experiences are reproduced following this referential, in way to challenge the paradigm of the traditional teaching: controller, rigid and limited.

Key words: Teaching, Psychodrama, Public Health System.


INTRODU��O

A expectativa do profissional de ensino comprometido com sua tarefa, tem sido de operar com modelos interpretativos que d�em respostas coerentes � pergunta como ensinar, na medida em que, aprender n�o � copiar ou reproduzir a realidade (Freire, 1983). Esta concep��o guarda uma rela��o com o car�ter ativo do aluno no processo ensino-aprendizagem, levando a um conhecimento como fruto de uma constru��o pessoal e relacional em um contexto ditado de elementos significativos em intera��o din�mica, tais como os culturais, sociais, filos�ficos, religiosos etc. Quando este processo ocorre, pode-se dizer que a aprendizagem est� se efetuando, sendo constru�do um significado pr�prio e pessoal no indiv�duo a partir de aspectos que emergem tamb�m das rela��es no grupo.

Em conformidade com o que foi descrito, percebe-se que o processo ensino-apredizagem conduz n�o somente a acumula��o de novos saberes, mas, principalmente, a integra��o, modifica��o, estabelecimento de rela��es e coordena��es entre esquemas de conhecimentos j� existentes, dotados de uma certa estrutura e organiza��o que varia em v�nculos e rela��es a cada nova apreens�o da realidade. Neste sentido, o ensino deve promover interc�mbios que levem a aprendizagem cognitiva e � socializa��o, considerando as condi��es normativas, efetivas, simb�licas e as rela��es humanas (Tardif; Loiola & Loiola, 2004). No estudo das leis que regem o comportamento social e grupal, Moreno (1959) desenvolveu os fundamentos da Socionomia, que visa compreender de modo aprofundado toda din�mica que se instala no processo de intera��o humana, estruturando o Psicodrama como �o m�todo que penetra a verdade da alma atrav�s da a��o� (Moreno, 1959, p. 98). Este m�todo nega a repeti��o de conte�dos e pede a aprendizagem de a��es adquiridas nas rela��es interpessoais por meio de jogos dram�ticos visando a espontaneidade e criatividade.

Segundo Monteiro (1994, p. 21), �o jogo � uma atividade que propicia ao indiv�duo expressar livremente as cria��es de seu mundo interno, realizando-as na forma de representa��o de um papel, pela produ��o mental de uma fantasia ou por determinada atividade corporal�. O jogo dram�tico obedece aos mesmos princ�pios e etapas do Psicodrama: aquecimento, dramatiza��o e compartilhar.

A primeira etapa � o aquecimento que visa situar e focar a aten��o em si mesmo, aquietando as resist�ncias e preparando o sujeito para novas viv�ncias; em seguida ocorre a dramatiza��o, a pr�pria a��o dram�tica, finalizando pelo compartilhar, que consiste na express�o de emo��es e sentimentos despertados a partir da dramatiza��o (Cukier, 1992).

Para Garrido-Mart�n (1996), o pensamento de Moreno � correlato ao campo da Pedagogia, pois aquela abordagem nasceu fundamentalmente de uma atitude terap�utica, oferecendo um conjunto de estrat�gias extremamente �teis ao processo educativo, como: teatro espont�neo, jornal vivo, jogos dram�ticos, dramatiza��es, sociodramas, role playing, mas principalmente, o m�todo educacional psicodram�tico ou psicodrama pedag�gico, este �ltimo desenvolvido por Roma�a (1987;1996). Roma�a (1987) destaca o conceito de psicodrama como sendo a combina��o equilibrada de trabalho em grupo, desenvolvido num clima de jogo e liberdade, que alcan�a sua maior express�o quando articulado no plano dram�tico ou teatral. Por meio deste conjunto de a��es � poss�vel construir conceitos e treinar pap�is com o psicodrama pedag�gico, o qual se vale do recurso dram�tico para a reconstru��o das experi�ncias individuais, procurando inseri-las no plano coletivo, contextualizado no aqui e agora.

Em face ao exposto, considerou-se relevante relatar uma experi�ncia pr�tica de utiliza��o do psicodrama pedag�gico em um semin�rio tem�tico sobre Sistema �nico de Sa�de (SUS). Ressalta-se que o SUS surgiu como modelo inovador e integrador das a��es de assist�ncia b�sica em sa�de, resultante de um conjunto de embates pol�ticos e ideol�gicos travados por diferentes atores sociais, ao longo dos anos. Decorrentes de concep��es diferenciadas, as pol�ticas de sa�de e as formas como se organizam os servi�os n�o s�o frutos apenas do momento atual, ao contr�rio, t�m uma longa trajet�ria de formula��es e de lutas (Cunha & Cunha, 2001). Para os mesmos autores, a primeira mudan�a incorporada pelo SUS foi a incorpora��o de um conceito de sa�de mais abrangente, idealizado n�o apenas como a aus�ncia de doen�as, mas sendo resultado de um conjunto de fatores sociais, econ�micos, pol�ticos, culturais, ambientais e comportamentais, al�m do biol�gico. Foi neste contexto de mudan�as na conjuntura do sistema de sa�de brasileiro e de constru��o do SUS que o processo ensino-aprendizagem descrito no presente estudo se desenvolveu, buscando-se a compreens�o e apreens�o dos seus componentes hist�ricos, doutrin�rios, avan�os e desafios em sua efetiva��o pr�tica, tendo-se como objetivo identificar as repercuss�es do uso do psicodrama pedag�gico como referencial entre alunos de um curso de mestrado.

M�TODO

Estudo descritivo-explorat�rio uma vez que teve o prop�sito de descrever um processo ensino-aprendizagem no qual foram realizadas an�lises emp�ricas e te�ricas. Gil (2002) argumenta que estudos desta natureza s�o realizados, habitualmente, por pesquisadores sociais ou por organiza��es educacionais, preocupados com a atua��o pr�tica.

Os dados foram registrados por ocasi�o de um semin�rio tem�tico realizado como parte da disciplina Pol�ticas e Pr�ticas de Sa�de, do Curso de Mestrado em Educa��o em Sa�de, da Universidade de Fortaleza (UNIFOR). A referida disciplina tem como ementa o estudo das pol�ticas de sa�de que norteiam o SUS; a consolida��o do SUS; interface entre educa��o em sa�de e promo��o de sa�de; e concep��es vigentes de educa��o em sa�de nas organiza��es sociais no Brasil. Os conte�dos da disciplina foram divididos em cinco semin�rios tem�ticos, que foram conduzidos pelos 20 alunos. A turma tem forma��o multiprofissional nas �reas de Enfermagem, Psicologia, Servi�o Social, Terapia Ocupacional, Educa��o F�sica, Fisioterapia, Pedagogia e Odontologia, o que favoreceu a interdisciplinaridade no compartilhar de experi�ncias e conhecimentos.

Os resultados foram apresentados conforme as etapas seq�enciais do semin�rio, ou seja, acolhimento, aquecimento, conta��o de hist�ria, teatro do improviso, exposi��o dialogada, conversa em subgrupos, escultura e avalia��o / auto-avalia��o atrav�s da roda de embalo. Esta divis�o foi apenas did�tica, pois, na verdade, estas etapas ocorreram de forma integrada entre si.

Os participantes tiveram suas identidades respeitadas, mantendo-se o sigilo e o anonimato com rela��o aos sujeitos. A turma est� ciente do estudo e concordou com sua elabora��o sem nenhuma recusa.

RESULTADOS

Relato da experi�ncia

Os facilitadores expressaram boas vindas aos alunos, passando sentimentos de alegria e entusiasmo por ocasi�o do acolhimento. Apresentaram-se e procederam a leitura e programa��o proposta, negociando os hor�rios, conte�dos e din�mica do semin�rio. Ressalta-se que o semin�rio ocorrera em um per�odo p�s-carnavalesco, sendo que alguns alunos demonstraram euforia e, outros, j� se mostraram mais tranq�ilos, particularmente aqueles que haviam aproveitado o per�odo para repousar e/ou colocar as atividades acad�micas em dia.

O aquecimento teve o objetivo de preparar o grupo para retornar desse contato externo e imergir nos objetivos do semin�rio. Foi realizado por meio de um exerc�cio participativo intitulado �carnaSUS�, no qual um aluno entrevistava o outro sobre �como foi seu carnaval�, procurando identificar os fatos marcantes do per�odo. Formaram-se pares, aleatoriamente, para a tarefa de elaborar uma manchete que retratasse o conte�do das entrevistas / di�logos entre eles. As manchetes produzidas foram apresentadas � plen�ria de maneira criativa, onde os alunos simularam os principais notici�rios de canais televisivos do Pa�s, reproduzindo-se sons, aberturas e posturas dos rep�rteres. Foram apresentadas as seguintes manchetes: �a busca da alegria e o encontro com a viol�ncia�; �carnaval tamb�m � descanso�; �carnaval mais saud�vel ainda � em casa�; �carnaval cultural de Olinda�.

O terceiro momento foi o da a��o dram�tica caracterizado pela conta��o de hist�ria intitulada �Era uma vez o SUS...� (ap�ndice). Consistiu em um recurso utilizado para trabalhar o hist�rico do SUS, tendo sido criado o personagem Doutor Justo para narrar a hist�ria. Um dos facilitadores, incorporando este papel, convidou os participantes a se envolverem na constru��o do SUS, na medida em que a narra��o transcorria. Em seguida, realizou-se o teatro do improviso � �cotidiano do SUS�, dramatizado a partir de uma fila de atendimento no SUS, formada pelos pr�prios alunos que protagonizaram o cotidiano de suas pr�ticas em cenas do tipo de atendimento oferecido pela recepcionista, pelo enfermeiro e pelo m�dico em uma unidade de sa�de. As cenas negaram aos clientes grande parte dos princ�pios do SUS, como: universalidade, integralidade, equidade, bem como os princ�pios operacionais. Contou-se com a colabora��o de representante do grupo de teatro da pr�pria universidade, que favoreceu a condu��o e a participa��o dos alunos.

Para fundamentar as discuss�es que surgiram em decorr�ncia do teatro, ap�s reflex�es dos alunos sobre a experi�ncia protagonizada por alguns e assistida por outros, os facilitadores realizaram uma exposi��o dialogada com apoio de recurso audiovisual, aprofundando conceitos, avan�os, desafios e perspectivas do SUS. Ap�s a exposi��o, o conte�do foi refletido na roda de conversa em subgrupos, na qual dividiu-se o grupo em dois subgrupos: um para discutir os avan�os e o outro para discutir os desafios � implementa��o do SUS, passando em seguida para uma apresenta��o em plen�ria e consolida��o do pensamento geral do grupo.

A turma foi conduzida para o momento da escultura, que utilizando o pr�prio corpo buscou construir uma imagem grupal a respeito da compreens�o que agora imprimiam sobre o SUS. Sem utiliza��o da fala foram surgindo diferentes imagens corporais, sendo que a cada imagem constru�da desfazia-se a anterior para dar lugar as novas formas de configura��o, alteradas pelos movimentos das pessoas, at� chegar a uma forma que o grupo considerou representar o momento vivenciado por todos. O conte�do verbal s� foi expresso ap�s a constru��o da escultura, quando v�rias palavras foram emitidas para dar nome � obra: uni�o de for�as, participa��o, decis�o conjunta, determina��o, negocia��o, integra��o e mudan�a.

A roda de embalo culminou com a integra��o do grupo. A �ltima etapa consistiu em compartilhar um momento no qual os alunos expressaram sentimentos com rela��o a viv�ncia em sala de aula. O grupo finalizou o semin�rio em c�rculo com os bra�os entrela�ados, representando a import�ncia da uni�o e do trabalho em equipe para constru��o do SUS. Ap�s o compartilhar realizou-se a avalia��o.

AN�LISE DA EXPERI�NCIA

As rela��es no grupo foram se reconfigurando constantemente em torno das situa��es vivenciadas e do n�vel de conhecimento entre os seus membros. O processo de intera��o e entrosamento das pessoas cresceu na medida em que a aproxima��o foi se dando pela aceita��o de si mesmo e do outro e do compartilhar de experi�ncias da vida, envolvendo sentimentos e descobertas.

Considerando estes aspectos, a integra��o entre os participantes foi favorecida durante todo o semin�rio: no acolhimento, pela maneira simp�tica, alegre e cordial com que os facilitadores recepcionaram os alunos, deixando-os � vontade; no aquecimento, que atrav�s do exerc�cio �carnaSUS� proporcionou uma aproxima��o entre a tem�tica do semin�rio e o carnaval, do qual a maioria dos alunos retornava, despertando interesse e integra��o; no teatro do improviso no qual todos participaram, como plat�ia ou como personagem, provendo a intera��o e a integra��o; na constru��o da imagem coletiva, momento no qual as oportunidades de re-criar imagens que representassem o SUS deu lugar a forma��es diferentes, at� o abra�o coletivo em roda de embalo; e, ainda, na avalia��o/auto-avalia��o, efetuada sob o olhar do aluno para o aluno e pelas docentes da disciplina. Portanto, o processo de integra��o grupal foi crescente nas diversas fases do grupo.

Sobre a evolu��o da integra��o de um indiv�duo ao grupo, Yozo (1996) se refere a quatro momentos b�sicos: eu-comigo - momento em que se localiza e se identifica num grupo, quem sou eu, como estou e como me sinto; eu e o outro - identifica��o do outro, quem � o outro, como me aproximo, como me sinto; eu com o outro - percebe-se o outro e principia a invers�o de pap�is, como � o outro, como ele se sente, pensa e percebe em rela��o a ele; eu com todos - estabelecimento da rela��o com todos em busca de identidade e coes�o grupal. Esses momentos foram trabalhados durante as diversas etapas do psicodrama pedag�gico, o que favoreceu uma intera��o afetiva e efetiva entre os participantes.

O exerc�cio de aquecimento �carnaSUS� proporcionou um campo de relaxamento para o grupo, aspecto que foi considerado como necess�rio por parte dos facilitadores, considerando ter sido este o primeiro semin�rio da disciplina. Segundo Gomes (2002), o aquecimento permite a supera��o das resist�ncias, pela cria��o de um campo de descontra��o, podendo gerar maior participa��o, caso seja efetivo. Corroborando esse pensamento, Roma�a (1987) afirma que nenhum conhecimento adquire vida dentro de um aluno, aprendiz ou treinando se n�o h� um campo prop�cio e disponibilidade para isso.

Percebeu-se que o aquecimento estabeleceu um ambiente de concentra��o e espontaneidade aos participantes. Um fato que merece destaque foi que, metade dos alunos preferiu o descanso ao inv�s das programa��es carnavalescas, e aqueles que participaram das festividades mostraram-se, por demais, preocupados com as cenas de viol�ncia presenciadas. Essa realidade despertou, no grupo, uma reflex�o sobre viol�ncia e o contexto social atual. Tratar da quest�o da viol�ncia n�o fugiu ao debate do SUS, uma vez que constitui um dos maiores problemas de sa�de p�blica da atualidade (Minayo, 2003) e, por outro lado, confirma a possibilidade que o processo ensino-aprendizagem participativo e livre abre para os alunos estabelecerem conec��es com as diversas nuan�as da vida pr�tica.

A conta��o de hist�ria despertou curiosidade e motiva��o � escuta, constata��o que confirma o pensamento de Freyre (2002, p. 14), ao afirmar que cada vez que algu�m diz �era uma vez...�, a hist�ria ganha vida e prende a aten��o:

...ao cruzar a fronteira com o imagin�rio, a realidade se transforma da mesma maneira que acontece nos sonhos, obedecendo � linguagem de que nada � imposs�vel e trazendo sempre consigo um vasto poder de transforma��o.

A referida autora acrescenta que quem conta a hist�ria tem o brilho renovado no olhar, enquanto seres que diariamente l�em essa grande hist�ria que � a vida. Assim, a hist�ria do SUS ganhou vida e o grupo ao ouvir �era uma vez...� voltou-se para a contadora, silenciou e a escutou atentamente. O m�todo tamb�m despertou o interesse dos alunos sobre a pr�pria tem�tica �conta��o de hist�ria�, talvez por ser um referencial bastante arraigado na cultura cearense.

O teatro do improviso trouxe fotografias da realidade, o que na vis�o do aluno favoreceu a possibilidade de colocar-se em v�rios pap�is, sobretudo na posi��o de cliente, tendo a oportunidade de sentir como este se sente, contribuindo para maior aten��o em suas pr�ticas no sentido de escutar o cliente em suas necessidades, buscar compreender sua din�mica s�cio-cultural, assim como suas formas de perceber o processo sa�de-doen�a e seus direitos, conforme pode-se observar na express�o de um aluno que protagonizou o papel:

Eu achei interessante porque pude me colocar no lugar do paciente e sentir o quanto � dif�cil para ele. Tamb�m percebi quanto os direitos dos pacientes s�o desrespeitados.

Moreno (1984) considera que no teatro do improviso, as figuras das personagens emergem na alma do autor, onde cada um destes personagens dram�ticos � seu pr�prio criador, e o poeta � aquele que os combina dentro de um todo unificado. Colocar-se no lugar do cliente ou do profissional, desempenhando papel no teatro ou participando como plat�ia interativa, atrav�s do jogo dram�tico, permitiu ampliar a perspectiva pessoal dos alunos, pelo acesso a sentimentos, percep��es, empatia, identifica��es e melhor compreens�o das representa��es sociais, tanto do profissional de sa�de como do cliente, neste encontro inter-humano na pr�tica cotidiana. O lugar do jogo no desenvolvimento cognitivo/afetivo � aquele que propicia o reconhecimento das pr�prias capacidades, emo��es, sentimentos e conflitos, uma vez que jogar � agir (Wechsler, 1999). Para Roma�a (1987), o psicodrama pedag�gico promove essa elabora��o de conceitos e afetividade a partir de experi�ncias cotidianas significativas, bem como melhor compreens�o dos pap�is profissionais e sua estrutura��o.

A exposi��o dialogada proporcionou refor�ar conceitos, ampliando e aprofundando informa��es, favorecendo reflex�es e conec��es com atitudes percebidas na pr�tica profissional, tendo-se destacado a import�ncia de todos os profissionais para um atendimento mais respeitoso, humanizado e efetivo.

A conversa em subgrupos gerou reflex�es em torno dos desafios � universaliza��o do SUS. Os principais avan�os identificados pelo grupo foram o de descentraliza��o da aten��o, incorpora��o de novas tecnologias e intersetorialidade; ao passo que os desafios corresponderam a desrespeitos dos direitos dos usu�rios, dificuldades de financiamento e de acesso aos servi�os e concep��o do processo sa�de-doen�a centrado no modelo biom�dico. Ao final, os alunos integraram essas duas faces, considerando o que era avan�o como desafio e vice-versa. Neste sentido, os alunos discerniram estar o SUS em constru��o, sendo, portanto, processo de vir a ser, dependendo da parcela de contribui��o dos profissionais e de cada um que ali se encontrava como protagonista e ator na cena de transforma��o da vis�o e da pr�tica promotora de sa�de no SUS.

No momento de compartilhar o fechamento, coment�rios relacionaram a viv�ncia � compreens�o do SUS, destacando-se a fala de um dos alunos que narrou: o SUS � isso que vivenciamos aqui, esta eterna constru��o e desconstru��o e todos n�s temos um papel nisso. Portanto, a id�ia de que o SUS est� em constru��o e requer a participa��o de todos foi a s�ntese elaborada pelo grupo, sendo que o grupo relacionou v�rias palavras que ampliaram o significado do SUS: estar aberto, mudan�a, integra��o, continuidade, perseveran�a, movimento, a��o, dentre outras. Algumas outras falas de alunos complementam este desfecho:

Estou mudando minha maneira de perceber o SUS.
Foi muito boa essa imagem que ficamos de que o SUS � essa constru��o permanente e que n�s fazemos parte dela.

Resultados semelhantes aos apontados pelos mestrandos foram mencionados por L� abbate (1997), ao se referir a experi�ncia de capacita��o em educa��o e comunica��o em sa�de utilizando a abordagem do psicodrama pedag�gico em cursos e oficinas.

A avalia��o abrangeu os itens organiza��o, participa��o, conte�do e rela��o estabelecida com a pr�tica, tendo sido atribu�da pelos tr�s representantes do alunado e pelas duas docentes o grau de excel�ncia, por ter atendido �s expectativas e aos quesitos avaliados.

Como resultante da auto-avalia��o, os facilitadores ressaltaram o sentimento de preocupa��o, relacionado-o ao fato do semin�rio ocorrer logo ap�s o carnaval, per�odo que poderia ter dificultado a leitura pr�via dos textos de apoio e a boa disposi��o da turma. Por�m, este sentimento foi superado pela coragem e o apoio m�tuo dentro da pr�pria equipe de facilitadores, que encontrou nos alunos, potencial de adapta��o e supera��o, facilitando o desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem. Alunos destacaram que o m�todo aplicado foi empreendedor, n�o s� no sentido de promover aquisi��o de informa��es e conte�dos, mas de enriquec�-los como pessoas e seres humanos.

CONSIDERA��ES FINAIS

Ficou evidenciado que a aplica��o do psicodrama pedag�gico facilitou a compreens�o do SUS, por parte dos alunos desta turma de mestrado. Integra��o, afetividade, criatividade, descontra��o, motiva��o, participa��o, conec��o entre teoria e pr�tica e colocar-se no lugar do cliente foram aspectos favor�veis � aprendizagem, potencializados pelo uso do psicodrama. Esta realidade contribuiu tanto para a apreens�o de informa��es quanto para reflex�es dos alunos a respeito de seus pap�is, o que certamente poder� conduzi-los a mudan�as de comportamento como resultado real da utiliza��o do conhecimento adquirido.

Destacou-se o papel de facilitador, assumido pela equipe respons�vel pelo semin�rio, que bem soube animar os alunos e criar condi��es para que estes se colocassem dispon�veis � aprendizagem, numa rela��o afetuosa, de respeito e igualdade.

Recomenda-se que outras experi�ncias possam ser reproduzidas seguindo o referencial te�rico do psicodrama, sobre esta e sobre outras tem�ticas, de maneira a desafiar o paradigma controlador, r�gido e limitado do ensino tradicional, que nega aos alunos a possibilidade de criar e recriar conhecimentos em seu benef�cio pr�prio, capaz de transformar a realidade.

REFER�NCIAS

AP�NDICE

Hist�ria: Era uma vez...o SUS

Era uma vez um certo senhor chamado Justo. Como a maior parte dos brasileiros, era curioso e inquieto. O mesmo buscava refer�ncias hist�ricas para compreender a constru��o das pol�ticas de sa�de e da conjuntura pol�tica de seu Pa�s. Em suas andan�as, descobriu que n�o estava s� e que havia outros senhores, que como ele, estavam insatisfeitos com a situa��o em que se encontrava a sa�de de seu povo.

Sr. Justo ficou sabendo que houve ent�o um momento hist�rico em que a sociedade se organizou e se mobilizou politicamente, elaborando propostas para solucionar os problemas de sa�de p�blica da popula��o.

Ent�o pessoal, de 1923 a 1930, existia a Previd�ncia Social, inserida num processo de modifica��o da postura liberal do Estado frente a problem�tica trabalhista e social. Os principais acontecimentos desta �poca foram a cria��o de Lei Eloy Chaves e a cria��o das caixas de aposentadoria e pens�es (CAPs). Tamb�m imaginem voc�s que foi a �poca do sanitarismo campanhista com enfoque no combate as doen�as de massa com repress�o sobre os corpos individual e social e alta concentra��o das decis�es.

Nas d�cadas de 30 e 40 com a revolu��o ocorrida neste per�odo, foram apresentadas propostas de conten��o de gastos e surgiram as a��es centralizadas de sa�de p�blica. A previd�ncia ent�o sofria as suas primeiras reformas, tanto no �mbito organizacional quanto na sua concep��o. Os principais marcos desta �poca foram a cria��o do Minist�rio do Trabalho, a Consolida��o das Leis Trabalhistas (CLT) e a cria��o dos Institutos de Aposentadoria e Pens�es (IAPs). Entre 1945 e 1966 aconteceu r�pido desenvolvimento urbano e industrial, desencadeando a elabora��o da Lei Org�nica da Previd�ncia Social e como conseq��ncia uma nova reforma da previd�ncia, ou seja, ocorreu a fus�o dos IAPs. Dando origem ao Instituto Nacional da Previd�ncia Social (INPS).

Minha gente, o per�odo de 1966 a 1973 foi marcado pelo crescente papel do Estado como regulador e pelo alijamento dos trabalhadores do processo pol�tico, ao lado de uma pol�tica de arrocho salarial decorrente do modelo de acumula��o adotado. Apesar dessas mudan�as a popula��o n�o estava satisfeita, pois ainda n�o recebia servi�os de sa�de efetivos.

De 1974 a 1979 foram criados o Minist�rio da Previd�ncia e Assist�ncia Social (MAPS) e o Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Social (FAS). Gente, deste esta �poca, j� havia a falta de controle sobre os servi�os, favorecendo a corrup��o e o desequil�brio financeiro da previd�ncia.

Com o objetivo de controlar estes servi�os foi criada a Empresa de Processamentos de Dados da Previd�ncia Social (Dataprev) e em seguida o Instituto Nacional de Assist�ncia M�dica da Previd�ncia Social (INAMPS), com o objetivo de disciplinar a concep��o e a manuten��o de benef�cios.

A Confer�ncia Internacional sobre Cuidados Prim�rios de Sa�de, gerou esperan�a com rela��o � melhoria da sa�de do Pa�s, definindo diretrizes e metas como sa�de para todos no ano 2000. Este per�odo foi definido como sendo o inicio do movimento contra-hegem�nico que, nos anos 80, viria a se configurar com o projeto da Reforma Sanit�ria.

A d�cada de 80 vivenciou um quadro pol�tico e econ�mico marcado por dificuldades no panorama nacional e internacional. Estudiosos da �poca definiram os anos 80-83 como per�odo de eclos�o de tr�s crises: ideol�gica, financeira e pol�tico-institucional. A crise ideol�gica foi decorrente pela reestrutura��o e amplia��o dos servi�os de sa�de.A crise financeira � decorrente do d�ficit crescente desde 1980. A crise pol�tico institucional foi marcada pela cria��o do Conselho Consultivo da Administra��o de Sa�de Previdenci�ria (CONASP). A proposta do CONASP foi consubstanciada nas A��es Integradas de Sa�de (AIS). Mais do que um programa dentro do INANPS e das secret�rias de sa�de, as AIS passaram de estrat�gias setorial para a reforma da pol�tica de sa�de.

Em 1986 � realizada em Bras�lia a VIII Confer�ncia Nacional de Sa�de (CNS) significando um marco na formula��o das propostas de mudan�as do setor sa�de consolidadas na reforma sanit�ria brasileira. Seu documento final sistematiza o processo de constru��o de um modelo reformador para a sa�de, definida como sendo resultante das condi��es de alimenta��o, habita��o, educa��o, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra, e acesso a servi�os de sa�de. �, assim, antes de tudo, o resultado das formas de organiza��o social da produ��o, as quais podem gerar desigualdades nos n�veis de vida.

Durante o processo de elabora��o da Constitui��o Federal, outra iniciativa de mudan�a do sistema foi implementada, o Sistema Unificado e Descentralizado de Sa�de (SUDS), idealizado como estrat�gia de transi��o em dire��o ao SUS.

Como resultante dos embates e das diferentes propostas em rela��o ao setor sa�de, a Constitui��o Federal de 1988 aprovou a cria��o do SUS, reconhecendo a sa�de como sendo um direito a ser assegurado pelo Estado e pautado pela universalidade, equidade, integralidade e organiza��o de maneira descentralizada, hierarquizada e com participa��o da popula��o.

Ent�o amigos, meus companheiros, pode-se compreender que, teoricamente, a sa�de chegou a um modelo ideal no Pa�s, restaria agora sua viabiliza��o, ou seja, fazer com que os seus princ�pios norteadores fossem colocados em pr�tica.

O processo de constru��o do SUS � resultante de um conjunto de embates pol�ticos e ideol�gicos, travados por diferentes atores sociais ao longo dos anos. Constru��o � a id�ia que melhor sintetiza o SUS. Garantido o alicerce, falta compor parte a parte, a estrutura do edif�cio.





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