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Estudo etnográfico das implicações das novas tecnologias na construção da subjetividade dos trabalhadores da UTI.

Michele Caroline Stolf / Micheline Ramos de Oliveira


Resumo:

Atualmente, a inserção das novas tecnologias nos ambientes de trabalho é cada vez mais constante, e as Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), utilizam em larga escala os recursos disponibilizados pelas tecnologias, sendo que estas tornam-se fundamentais para a realização do trabalho. Este artigo é resultado de uma pesquisa qualitativa, a qual buscou identificar as implicações das novas tecnologias na construção da subjetividade dos profissionais da UTI do Hospital Regional Alto Vale, através de observações participantes, entrevistas individuais semi-estruturadas e a etnografia do cotidiano. Durante a permanência em campo e análise dos dados obtidos, foi possível perceber que os profissionais citados consideram que seu trabalho depende muito das tecnologias, mas narram o sentimento de medo perante suas possíveis falhas. Foram analisados também outros aspectos do trabalho descrito pelos participantes, como as relações interpessoais, a presença da morte e os sentimentos relacionados ao exercício da profissão.

Actualmente, la inserción de nuevas tecnologias en los medios de trabajo es cada vez más constante, e las Unidads de Terapia Intensiva (UTIs) utilizam en grande cantidad los recursos dispnibles por las tecnologias, siendo que estas tornan-se fundamentales para la realización del trabajo. Este artigo es lo resultado de una investigación qualitativa, que busco identificar las implicaiones de las nuevas tecnologias en la construción de la subjetividad de profesionales de la UTI del Hospital Regional Alto Vale, usando observaciones participantes, entrevistas indivuales semi estrcuturadas e la etnografia del cotidiano. Durante la permanencia en campo y analisis de los dados, fué possible observar que los profesionales citados consideran que su trabajo depende de las tecnologias, pero narran el sentimiento de miedo ante suyas posibles fallas. Fueran analizados también otros aspectos descriptos por los participantes, así como las relaciónes interpersonales, la presencia de la muerte y los sentimientos relacionados al ejercicio de la profesión.

Palavras Chave: UTI, trabalho, novas tecnologias, subjetividade.

Abstract:

Nowadays, the insertion of new technologies in work environments is more and more frequent. The Intensive Care Units (ICUs), use in a high degree the resources available by technologies, and these resources has become primordial to accomplish the work. This article is the result of a qualitative research, that tried to identify the new technologies implications in the construction of subjectivity of ICU professionals at Hospital Regional Alto Vale, through participant observations, individual semi-structured interviews and the everyday ethnography. During the permanence in field and data analysis, it was possible to notice that the quoted professionals consider their work dependant of the technologies, but they talk about their fear because of possibilities of failure in the technologies. Other features of the work were analyzed, as the interpersonal relationships, the presence of death and the feelings related to their work.

Key-words: ICU, work, new technologies, subjectivity.


Introdução

A sociedade atual encontra-se em um período de inúmeras transformações tecnológicas, sociais, econômicas e institucionais, fato que pode ser percebido em todas as instâncias sociais, inclusive nas formas de trabalho onde mudanças estão cada vez mais presentes e observa-se que até mesmo as maneiras de lidar com doenças e suas curas vêm se modificando, pois com o surgimento da engenharia genética a medicina pode fazer cada vez mais por seus pacientes.

Neste contexto, vários conceitos e situações são vistos de forma diferenciada, assim a díade saúde/doença também passa a receber um novo enfoque resultante do desenvolvimento tecnológico, científico e cultural, a partir do momento em que ocorre a inserção de novos instrumentos, sendo que estes são desenvolvidos com o objetivo de prolongar, melhorar e manter a vida humana. Além disso, um crescente número de estudos e pesquisas vem sendo elaborados nesta área, visando proporcionar tratamentos mais eficazes e menos agressivos aos pacientes, promovendo melhor qualidade de vida aos enfermos.

Os profissionais da área da saúde, neste sentido, são profundamente influenciados pelo novo paradigma tecnológico que passou a fazer parte da sociedade contemporânea, o qual infiltra-se nos diversos ambientes de trabalho, exigindo novas significações por parte destes sujeitos. Assim, o meio hospitalar e mais especificamente a UTI, na qual os recursos disponibilizados pelas novas tecnologias são amplamente utilizados, significando inclusive, a diferença entre a vida e a morte, faz com que os indivíduos que trabalham nesse local busquem uma apropriação maior acerca do domínio destes recursos.

Com base nas referidas informações, observa-se a importância de pesquisas nesta área, que contemplem um conhecimento maior relacionado às formas que os trabalhadores do referido local lidam com todas estas questões e o quanto elas exercem poder e influência sobre a construção de sua subjetividade¹, buscando assim identificar o sentido dado por estes sujeitos ao novo contexto que passou a permear suas relações com o trabalho.

Considerando todos estes fatos e sabendo que o ser humano se constrói pelas relações estabelecidas com seu meio, surgiu o interesse em realizar um estudo acerca de como os trabalhadores da UTI do Hospital Regional Alto Vale lidam com todas estas questões relativas ao trabalho, às novas tecnologias, à manutenção da vida e qual o significado atribuído por eles à estes fatos, elaborando-se assim a problemática: “O uso das novas tecnologias no meio hospitalar e suas implicações na construção da subjetividade dos trabalhadores da UTI do Hospital Regional Alto Vale”.

Apresenta-se então, os dados obtidos nesta pesquisa, separados em núcleos de significação do discurso, que são os temas centrais apresentados pelos sujeitos participantes, os assuntos em que demonstraram maior emoção ou envolvimento, de acordo com os objetivos da pesquisa. Após os itens da análise, apresentam-se as considerações finais, apontando os pontos que mais chamaram atenção durante a realização da pesquisa e as interpretações mais importantes realizadas, bem como as recomendações, ações possíveis de serem executadas para promover melhoras no ambiente de trabalho dos profissionais da UTI.

1. Metodologia

Pelo fato de esta pesquisa estar procurando investigar implicações na subjetividade dos trabalhadores da UTI, foi utilizado o método qualitativo, uma vez que a epistemologia qualitativa procura explicar a subjetividade como parte fundamental da cultura, pois é um fato que está no interior das relações estabelecidas pelo ser humano, sendo que Gonzáles Rey (2002) afirma que a subjetividade é complexa e sua compreensão exige o abandono de pré-conceitos e amarras.

Durante o período de seis meses antes da aplicação da presente pesquisa foi construído o projeto da mesma, no qual definiu-se o tema a ser investigado e os objetivos, bem como os passos a serem seguidos neste processo, ou seja, a metodologia. Vale lembrar que a pesquisa qualitativa não considera este projeto como algo pronto, fechado, que deve ser seguido à risca, pois ao entrar em contato com o campo, muitas vezes percebe-se que alguma modificação precisa ser feita para que a pesquisa obtenha melhores resultados.

O primeiro contato com o campo da pesquisa, foi realizado por uma conversa com a enfermeira chefe da UTI do Hospital Regional Alto Vale, com quem já havia sido comentada a possibilidade de elaboração da pesquisa naquele ambiente. Neste momento, foi apresentado o projeto da pesquisa e explicitado como ocorreria o processo de investigação, composto por observações participantes, entrevistas e pela etnografia do cotidiano. Vale salientar que, desde este primeiro momento, houve uma grande receptividade e aceitação com relação à realização da pesquisa por parte da equipe de profissionais da UTI, o que é muito importante, pois Gropp (2002) aponta que as lideranças devem apoiar o desenvolvimento da pesquisa no local, e devem ser estabelecidos a liberdade e possibilidade de movimento para o pesquisador desde o início.

Segundo Sato e Souza (2001), o etnógrafo geralmente possui um “informante”, ou seja, uma pessoa que possui uma visão distanciada do ambiente e por isso contribui para o desenvolvimento da pesquisa aconselhando sobre o que acontece naquele ambiente. Devido à receptividade já comentada, e ao contato realizado no semestre anterior, a enfermeira passou a ser então a informante neste início do processo da pesquisa. Por uma questão de disponibilidade de horários da pesquisadora e por sugestão da informante, foi decidido que as observações seriam realizadas no período noturno, e os participantes seriam escolhidos entre os funcionários que trabalham no grupo de trabalho da informante, constituído por ela, outra enfermeira que estava em treinamento e cinco técnicos em enfermagem. Esta equipe inicia o trabalho às 19:00 e termina às 7:00 do dia seguinte, comparecendo uma noite e folgando na noite seguinte.

Esta enfermeira então, mostrou o projeto aos outros funcionários e lhes informou sobre como seria a pesquisa, questionando-lhes sobre seu interesse em participar desta. Na semana seguinte, foi realizada a primeira entrada da pesquisadora na UTI, na qual a informante relatou quem seriam os funcionários mais indicados para serem os participantes. Este passo é muito importante, pois segundo Gonzáles Rey (2002), uma característica das pesquisas qualitativas é o fato de que os bons resultados só podem ser atingidos se os sujeitos estiverem motivados e envolvidos, gerando um processo interativo entre eles. Essa interação começa a ser alcançada desde o processo de apresentação da pesquisa, onde o pesquisador deve dialogar com os participantes propondo temas, explicando o desenvolvimento do trabalho, e aceitando opiniões e sugestões, sendo que nesse diálogo vão se delineando os rumos da pesquisa.

Já neste primeiro contato com o ambiente, alguns funcionários se mostraram mais disponíveis e interessados em participar da pesquisa, sendo que foram então escolhidos para serem os participantes desta, um técnico em enfermagem e uma enfermeira. Após esta escolha, os participantes foram informados sobre o processo da pesquisa, que constituiria-se por observações participantes, etnografia e entrevistas, sendo que estes concordaram com todos os passos, demostrando engajamento e vontade de participar, o que é essencial para que uma pesquisa qualitativa apresente bons resultados.

Nesta data, foi realizada também a primeira observação participante, na qual procurou-se observar como é desenvolvido o trabalho naquele local, quais as tarefas mais comumente realizadas pelos trabalhadores e o quanto o uso das tecnologias está implicado neste processo. Durante sua permanência no local, a pesquisadora procurou posicionar-se de maneira que não atrapalhasse o movimento dos trabalhadores, pois em certos momentos eles precisam atuar de maneira rápida e precisa. Buscou também não permanecer ou observar o trabalho de forma muito próxima aos pacientes, evitando-se assim uma atitude invasiva com relação à eles, pois não foi solicitada a sua permissão para isso e também porque o foco da pesquisa eram os trabalhadores.

Nestes períodos, o trabalho de toda a equipe era observado, e sempre que os funcionários se sentavam para fazer anotações sobre os pacientes e pareciam menos ocupados, algum questionamento sobre o trabalho lhes era feito, ou às vezes a iniciativa para conversa partia deles mesmos, fazendo perguntas sobre a pesquisa e/ou sobre a própria pesquisadora ou ainda relatando fatos acontecidos na UTI, bem como informações sobre o estado de saúde dos pacientes. Como estes diálogos na UTI ocorriam de maneira bastante informal, de acordo com a disponibilidade de tempo dos funcionários, que normalmente eram interrompidos para prestar algum cuidado aos pacientes, não foram feitas gravações, apenas anotações dos principais pontos comentados pelos participantes. Para isso foi utilizado o diário de campo, onde constam, além destas, as anotações de vários outros fatos que ocorriam no ambiente bem como as impressões da pesquisadora acerca disto.

Ao utilizar a observação participante, o pesquisador interage com os sujeitos, tornando-se parte da situação analisada, sempre apreciando os aspectos humanos, pois de acordo com Brandão (1990) é necessário que o pesquisador apreenda a rede de relações sociais e os conflitos de interesses que as permeiam, conseguindo assim, identificar o dinamismo decorrente das contradições e conflitos internos. O autor afirma ainda que, pela observação participante o pesquisador consegue inserir-se no contexto em que irá trabalhar, mas deve atentar para a preservação de uma distância crítica em relação à realidade e cotidianidade do grupo estudado.

Como a pesquisa foi realizada no ambiente de trabalho, utilizou-se ainda a etnografia, onde o pesquisador se envolve com a realidade estudada, apreendendo o conhecimento tácito, que é pessoal e específico ao contexto. De acordo com Gropp (2002), a etnografia utiliza métodos qualitativos e consiste numa total inserção do pesquisador no ambiente de trabalho, sendo que este deve analisar as relações e formas de comunicação entre os trabalhadores, bem como o trabalho em si. A etnografia realizada nas organizações pode revelar ainda, que a inserção de novas tecnologias interfere na subjetividade dos que as utilizam, desencadeando neles um processo de aprendizagem prático e social. A pesquisa etnográfica dentro de uma organização pode também auxiliar na compreensão da aprendizagem como processo socialmente construído.

Além destes instrumentos, foram utilizadas como técnica de coleta de dados duas entrevistas individuais semi-estruturadas com os dois participantes, com duração aproximada de uma hora cada, procurando revelar qual a concepção dos trabalhadores quanto ao uso das novas tecnologias enquanto meio de manutenção da vida dos pacientes, bem como possíveis sentimentos de medo e angústia perante possíveis falhas dos equipamentos e ainda as relações estabelecidas com outros profissionais no ambiente de trabalho. Para evitar a perda de informações, falta de fidedignidade ou ainda inferências do pesquisador, as entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas, atentando porém para a questão da ética profissional, solicitando permissão prévia para que as gravações fossem realizadas. Spink (2000) aponta que a entrevista é uma importante ferramenta de pesquisa, e pode fundamentar-se em diferentes abordagens teórico-metodológicas. Na entrevista são evocados personagens que irão dar consistência à história e aos argumentos apresentados, dando condições para perceber alterações sutis no posicionamento das pessoas.

Concomitantemente e após o processo de coleta dos dados foi realizada a análise dos mesmos, através de teorizações progressivas em um processo interativo com a coleta de dados, pois esta análise não consiste em descrever, mas em apreender o sentido atribuído pelos indivíduos a determinados fenômenos. Para isso, foram criados núcleos de significação do discurso, que consistem em temas centrais apresentados pelos sujeitos, temas que geram envolvimento e/ou emoção, e não são necessariamente os que apareceram com mais freqüência, mas foram orientados pelos objetivos da pesquisa. Então as falas/conteúdos/emoções dos sujeitos depois de organizadas em núcleos foram relacionadas com o material bibliográfico encontrado acerca do assunto estudado. Por este tema ser algo novo e muito pouco comentado atualmente, e por ser também este um dos objetivos da pesquisa qualitativa, algumas interpretações foram feitas à partir das observações realizadas e pelas percepções da pesquisadora, não possuindo então embasamento bibliográfico.

2. RESULTADOS OBTIDOS E ANÁLISE DE DADOS

No trabalho de campo foram levantados muitos dados relacionados aos objetivos da pesquisa. Estes dados são agora apresentados e divididos em núcleos de significação de acordo com os temas que geraram maior envolvimento dos participantes durante as entrevistas, observações e etnografia do cotidiano. Concomitantemente à apresentação, far-se-á a análise e interpretação dos dados obtidos, num diálogo teórico com autores que poderão elucidar a problemática em questão.

2.1 UTI: trabalho ou desafio?

Logo no primeiro contato realizado, Joana2 comentou que para trabalhar em UTI é preciso “gostar muito”3, porque o ambiente é fechado, os pacientes necessitam de mais cuidados e mais atenção, portanto fica mais estressante4 para os funcionários que ali atuam. Tiago, o outro funcionário, afirmou também na primeira conversa que desde que fez o curso técnico em Enfermagem gostaria de trabalhar em UTI porque gosta muito, considera o lugar mais interessante para se trabalhar dentro do hospital, pois ali passam casos bastante diversificados, e que está muito contente por estar ali não só pela questão financeira, mas principalmente por causa do aprendizado que está tendo. Mas segundo ele

“são poucos os que duram nessa profissão, porque é muito estressante, a UTI é um lugar onde tem muita dor, muito sofrimento e se vê de tudo, pessoas vivem e morrem, e para alguns isto é frustrante, tem pessoas que percebem que não conseguem lidar com isso”.

Aqui pode-se perceber o que Codo (1993) afirma sobre o trabalho e seu caráter mágico, pois ao mesmo tempo que é valor de troca, pago através de salário constituindo assim uma mercadoria no mercado, ele também é valor de uso, que realiza produtos ou serviços capazes de atender as necessidades humanas mais diversificadas. Pelo valor de troca, todos os trabalhos são iguais, pois resumem-se a uma pessoa dedicando seu tempo à realização de uma atividade para depois receber por isso. Mas enquanto valor de uso, ele é uma construção de significado pessoal, individual e intransferível, pois a maneira, a dedicação e o empenho que cada trabalhador investe em seu trabalho é diferente. Portanto, o “gostar do trabalho” revelado pelos funcionários consiste no valor de uso dessa profissão, pois cada um deles dedica-se à profissão de maneira diferente, com mais ou menos paixão, com maior ou menor preocupação. O autor comenta ainda que existe uma certa tensão entre o valor de uso e o valor de troca do trabalho, pois nem sempre um corresponde ao outro, e isto não é enfrentado de forma homogênea pelo trabalhador, sendo constituinte de sua identidade.

Tiago comenta ainda, que “gosta muito” deste trabalho porque não é monótono e não segue uma rotina muito fechada, afirmando que:

“sempre que saio de casa pra vir trabalhar eu já começo a pensar: Poxa, o que será que vai ter lá na UTI hoje? Como vai ser minha noite de trabalho? Porque cada paciente é um caso diferente e sempre tem coisas novas pra fazer e aprender. Eu jamais conseguiria trabalhar em um lugar que tivesse que fazer sempre a mesma coisa todo dia, porque eu não suporto rotina, acho muito entediante, gosto de trabalhar com pessoas, porque as pessoas são sempre diferentes.”

Acerca disso, Dejours (1992) indica que o trabalho dividido e repetitivo (trabalho taylorizado), gera ansiedade e tédio perante à tarefa, porque apaga as iniciativas espontâneas do trabalhador, quebrando as responsabilidades e o saber, sendo que estes sentimentos devem ser assumidos individualmente por cada trabalhador, pois a comunicação está excluída e muitas vezes até proibida. É este tipo de trabalho que Tiago quer evitar, pois valoriza a execução de atividades diversificadas e o aprendizado, bem como as relações estabelecidas com os outros trabalhadores, pois relata que “a gente conversa, brinca, um pega no pé do outro, assim, a gente tenta fazer um ambiente descontraído”.

Benchekroun (2000 apud Oliveira, 2002) descreve que em certos ambientes de trabalho existem Espaços de Cooperação Presencial (ECP), que caracterizam-se como pequenos grupos de trabalhadores que compartilham os instrumentos de trabalho e uma mesma missão, elaborando para isso, um curso de ação interdependente, atuando num espaço onde é possível comunicarem-se verbalmente ou não, trocarem objetos entre si bem como ouvir os diálogos uns dos outros. Pode-se afirmar então, que a UTI constitui um ECP, pois o ambiente é pequeno e todos podem ouvir o que os outros estão dizendo, os aparelhos são individuais para cada paciente, mas todos os funcionários lidam com eles e o objetivo é cuidar e promover melhora no estado de saúde dos pacientes. Por isso os trabalhadores afirmam que é tão importante o estabelecimento de bons relacionamentos entre eles, pois seu trabalho está interligado, como afirmam Joana: “se meu serviço não vai pra frente, não deixo ira pra frente o serviço dos outros”, e Tiago: “se não tiver confiança entre toda a equipe o trabalho não anda”.

O autor comenta ainda, que nestes ambientes de trabalho, cada trabalhador possui seu espaço bem definido de acordo com o que sabe fazer e por sua responsabilidade durante a ação. Assim, também ocorre na UTI, onde os técnicos em enfermagem, enfermeiros e médicos possuem funções distintas, que são seguidas e respeitadas. Mas às vezes, de acordo com a necessidade, um profissional faz o trabalho do outro. Joana conta que “existe uma divisão bem específica, mas eu desrespeito, porque eu acho que não vou deixar de ser enfermeira pelo fato de uma vez ou outra fazer o trabalho do auxiliar. Se ele estiver muito ocupado, eu vou fazer para ajudar”.

Merlo (2002), afirma que os trabalhadores criam espaços públicos, que são momentos onde decidem a melhor maneira de realizar uma tarefa, sendo que esta deve contar com a participação de todos, para que seja atingido o objetivo final. Se o trabalho de cada funcionário está intimamente interligado, é preciso a colaboração de todos eles, sempre baseada na confiança, pois se alguém não desempenhar seu papel corretamente, pode prejudicar todo o andamento da tarefa, por isso surge a preocupação deles sobre o trabalho em equipe, independentemente das funções hierárquicas de cada um, o que pode ser percebido nas afirmações de Tiago: “a UTI é uma equipe, que todos tem que trabalhar unidos, não importa se você é técnico ou médico”, e de Joana: “é muito importante a confiança na equipe”. Martins (2000) também afirma que um grupo de trabalhadores em enfermagem constitui um grupo organizado, onde “cada membro deve desempenhar papéis individuais que garantam a cada um uma participação determinada” (MARTINS, 2000, p. 86), possuindo como característica fundamental a interação entre os indivíduos, para atingir um objetivo final.

Oliveira (2002) afirma que os trabalhadores, em seu cotidiano precisam ter presentes especialmente dois tipos de competências: a capacidade de perceber o que está acontecendo em seu ambiente, e seguir estes indícios levando a ações; e a capacidade de realizar estas ações. Portanto, é preciso que ele perceba o que está ocorrendo ao seu redor, para então começar a agir sobre isso, ocorrendo assim a execução do trabalho, e nesse processo os trabalhadores estão sempre pensando, raciocinando e tomando decisões. Na UTI, percebe-se também que os funcionários precisam observar os pacientes, perceber o que está acontecendo com eles, para então passar à ação, ou seja, tomar as devidas providências para que este estado melhore, pois este é o objetivo de seu trabalho. Outro fator que mostra-se extremamente presente e imprescindível ao trabalho na UTI, é a utilização das tecnologias que é comentada em seguida.

2.2 O uso das novas tecnologias na UTI e os impactos na subjetividade dos trabalhadores.

Castells (2002) comenta que no processo de desenvolvimento tecnológico, a biotecnologia iniciou-se em 1953 com a descoberta da hélice dupla do DNA, e conseqüentemente uma corrida na busca de descobertas sobre o funcionamento e manutenção da vida, inclusive humana. Mas muitas dificuldades cientificas, técnicas, legais e éticas adiaram a esperada revolução biotecnológica até o final de década de 80, quando uma nova geração de ousados cientistas deu início a um novo enfoque: a engenharia genética, que constitui uma revolucionária tecnologia nessa área. A partir desses estudos, o homem já conseguiu criar aparelhos capazes de manter artificialmente um corpo com vida, fabricar medicamentos para as mais diferenciadas doenças, bem como prevenir o surgimento de outras. Os cientistas ainda anseiam em descobrir a cura para doenças como a AIDS e o câncer, ou mesmo em conseguir detectar a possibilidade de aparecimento de outras, e por isso a corrida biotecnológica continua.

Segundo os funcionários da UTI, é graças a estes estudos que a UTI existe, pois sua principal característica são os aparelhos que auxiliam os pacientes cujos corpos não conseguem realizar as funções vitais sozinhos, e monitoram todo o funcionamento vital destes pacientes. Por isso, eles dão grande valor ao uso destas tecnologias e afirmam que muito mais ainda pode ser feito, pois se o hospital tivesse recursos financeiros para adquirir todas as novidades que surgem em equipamentos hospitalares, muito mais poderia ser feito não só pelos pacientes, como também para o trabalho deles. Apenas para citar um exemplo, Joana conta que existem leitos com ajuste de altura automático, onde seria necessário apenas apertar em um botão para elevar ou abaixar a cama, permitindo ao paciente ficar sentado no momento em que desejasse, bem como facilitando o trabalho das equipes de enfermagem que precisam fazer este trabalho manualmente, o que segundo ela “é cansativo e a longo prazo pode trazer problemas de saúde para nós, como problemas de coluna”. Além desta, existe um enorme número de inovações tecnológicas que seriam de grande utilidade no ambiente da UTI.

Por causa das constantes transformações tecnológicas, um ambiente de trabalho como a UTI está sempre em condições de ser modificado pela introdução de novos aparelhos ou por mudanças na maneira de lidar com eles, pois com o desenvolvimento das novas tecnologias o trabalho tende a se modificar, automatizando cada vez mais as ações praticadas pelos trabalhadores, como no exemplo dos leitos citado por Joana. Essa instabilidade pode criar uma certa angústia nos trabalhadores, pois sentem que nunca aprenderam tudo o que havia para ser aprendido, sempre estão surgindo coisas novas que podem fazer com que eles precisem aprender novas técnicas. Isso pode ser percebido na afirmação de Tiago: “como eu me formei no ano passado, eu aprendi algumas coisas bem diferente das pessoas que trabalham lá e que fizeram o curso há muito tempo atrás, porque muita coisa já mudou”.

Oliveira (2002), também comenta que as organizações de trabalho estão inserindo cada vez mais equipamentos e instrumentos derivados das novas tecnologias, sendo que em muito casos estes são cada vez mais complexos. Por isso, é preciso compreender o sentido atribuído pelos trabalhadores aos aparelhos que utilizam para realizar suas atividades diárias, para assim desvendar aspectos relacionados ao seu trabalho, principalmente em um ambiente como a UTI, onde muitas vezes, os equipamentos estão mantendo os pacientes vivos, caracterizando-se como umas das principais ferramentas de trabalho dos profissionais que ali atuam.

Quanto à utilização desses equipamentos, Tiago afirma que “a UTI realmente só existe por causa dos aparelhos, porque essa é a caracterísitca da UTI, e o paciente que está lá depende 100% dos aparelhos e do nosso trabalho também”, percebendo-se assim a relação de dependência entre o trabalho e as tecnologias. Segundo ele:

“o respirador é um dos principais, pois 50% da vida do paciente depende deste aparelho e sem ele não há condições de trabalho para a equipe. O cardioversor também é muito importante porque serve para que o paciente que teve parada cardíaca ou cardio-respiratória volte, ele é indispensável para a UTI”.

Joana também considera grande a dependência de seu trabalho em relação às tecnologias, e segundo ela “a dependência é de 90%, porque tem os outros 10% que são o nosso trabalho, e que também fazem a diferença”.

Nas falas dos dois funcionários pode-se perceber que o trabalho na UTI está intimamente ligado à utilização das tecnologias, o que eles tentam demonstrar através desta quantificação da dependência, mas ao mesmo tempo eles também mencionam a relevância do próprio trabalho, enfatizando que sem a ação deles, de nada adiantam os aparelhos. Acerca disso, Oliveira (2002) afirma que desde o surgimento da UTI é dada grande ênfase aos aparelhos, mas se essa tecnologia fosse considerada isoladamente, ficaria bastante limitada, pois os recursos humanos também são de grande valor e precisam ser aperfeiçoados. Beck (citado por Martins, 2000) também aponta que a contribuição da tecnologia nas UTIs é inegável, mas não pode-se dispensar o trabalhador no cuidado direto com o paciente, o que envolve o toque, a fala e a percepção do outro, concordando assim com Pires (citado por Martins, 2000), ao afirmar que os trabalhadores precisam compreender o funcionamento dos equipamentos para poderem realizar um trabalho criativo e eficiente, não apenas mecânico.

De acordo com Tiago, esta dependência faz com que surjam sentimentos de insegurança quanto à aparelhagem, pois em seu turno de 12 horas de trabalho ele afirma que tudo pode acontecer e sempre fica apreensivo com relação aos equipamentos, principalmente com relação aos respiradores, e pensa “se vai funcionar ou não, porque muitas vezes o aparelho está fazendo a pessoa viver”. Em determinada noite, todos os respiradores estavam sento utilizados, então não havia mais nenhuma vaga na UTI. Portanto, como todos os pacientes dependiam de respiradores, se algum deles estragasse ou surgisse qualquer problema mecânico, já dificultaria muito o trabalho deles, pois teriam que fazer manualmente a respiração dobrando o trabalho, e Tiago afirma que “então a gente fica mais apreensivo ainda”. Principalmente por ser à noite, o conserto leva mais tempo para ser efetuado, pois o técnico da manutenção está em casa de sobreaviso, e até ele chegar no hospital e fazer a manutenção demora muito. Quanto à isso ele ainda complementa: “e imagine então se der problema em algum outro paciente, e tiver que cuidar dos dois juntos, é algo que pode acontecer”.

Acerca disso, Martins (2000) aponta que estes fatores relacionados à problemas nos equipamentos provoca nos trabalhadores um sentimento de impotência e angústia, já que estão fora de seu domínio, mas ao mesmo tempo possuem implicações diretas no seu trabalho, uma vez que na UTI torna-se praticamente impossível a realização do trabalho na ausência destes aparelhos. A autora comenta ainda que esta preocupação com as tecnologias utilizadas demonstra um atitude responsável dos funcionários pois ao lidar com a escassez e degradação da aparelhagem, surgem questões acerca de seu funcionamento que os trabalhadores não podem responder, mas que estão presentes em sua vivência diária, provocando efeitos que “influenciam diretamente suas ações, não permitindo a realização de um trabalho completo” (MARTINS, 2000, p. 101).

Tiago comenta ainda que muitas vezes os colegas até “pegam no pé” dele, pois costuma ficar muito “em cima” do paciente, justamente por não confiar muito no monitor, e por isso procura estar sempre olhando e cuidando do paciente, afirmando que “se precisar ficar as 12 horas olhando para o paciente eu fico, porque se o monitor não alarmar, é uma coisa que atrapalha 100% o trabalho, porque é uma coisa muito importante, que precisa estar mostrando os sinais do paciente bem certinho”. Por isso os colegas dizem que ele é muito inquieto, pois fica o tempo todo andando e “incomodando” os pacientes, pois às vezes o paciente quer dormir e ele está lá verificando se está tudo certo. Comenta que isso pode até ser um defeito dele ou talvez não, pois ele faz tudo isso para que o paciente fique bem e depois daquelas 12 horas ele esteja vivo. “Eu assim, no meu ver, o meu sentimento, eu tenho um certo medo de acontecer alguma coisa comigo, algum aparelho não alarmar e acontecer uma coisa mais grave com este paciente”.

Dejours (1992) afirma que o medo é um sentimento presente em todas as classes trabalhadoras, sendo que em algumas delas quase não se percebe sua presença nos discurso dos funcionários, uma vez que elaboram defesas e estratégias para lidar com isso. No ambiente da UTI, não ocorre o medo com relação à própria integridade física ou mental, mas sim o medo relacionado a um risco que não pode ser controlado pela ação preventiva, pois mesmo checando várias vezes o funcionamento do aparelho, uma falha é algo que está fora de seu controle e pode acontecer a qualquer momento. Este medo interfere no exercício das tarefas, fazendo com que o trabalhador exerça uma ação repetidamente para ter certeza de que está tudo funcionando corretamente.

O trabalhador Tiago afirma ainda que tem um certo “pé atrás” e procura ficar atento pois,

“máquina é máquina e ser humano é ser humano e isso sempre vai exigir uma diferença [...] assim como o ser humano tem defeitos, também muitas vezes a máquina erra, um botãozinho pode pifar, queimar uma luzinha ou um fusível, sempre pode acontecer, principalmente por serem aparelhos mais antigos, então eu penso que posso dar o azar e acontecer alguma coisa. Principalmente entre 1:00 e 5:00 da manhã fica tudo muito calmo, o médico e os pacientes estão dormindo, então eu penso: E se um monitor não alarmar, o paciente morrer e depois de um tempo, algumas horas, eu perceber que o paciente está morto?” eu sempre faço essa pergunta pra mim mesmo, porque é uma coisa que me preocupa”.

Joana também demonstra este sentimento, afirmando:

“Medo de que os aparelhos falhem sempre existe, e da maneira como eu penso isso interfere, eu me preocupo, eu me estresso, porque eu tenho empatia pelo paciente, eu sempre penso que é meu pai ou minha mãe que estão em cima desta cama. Espero nunca perder o respeito pelas pessoas, por isso vai ser um medo constante, um stress constante, porque não é a minha vida que está em jogo, é daquela pessoa ali, tem a família lá fora chorando e achando que o paciente está mal, é por estas pessoas que a gente tem que pensar, mas tem gente que não pensa”.

Então, percebe-se que outra característica do medo apresentado pelos trabalhadores, é que está sempre relacionado à outra pessoa, no caso o paciente. Eles não apontam que têm medo de que aconteça alguma falha nos aparelhos porque isso implicaria em advertências das chefias ou talvez na perda do emprego, o medo refere-se à integridade do paciente, pois o principal objetivo de seu trabalho é salvar vidas e promover cura. Martins (2000) aponta que a recuperação do sujeito hospitalizado provoca nos funcionários prazer e recompensa emocional, fazendo com que seu trabalho seja reconhecido, o que leva o profissional a perceber sua atividade como importante e grandiosa. O medo das falhas, portanto, pode aparecer como um receio de não conseguir realizar seu trabalho de maneira satisfatória, assim não receber o reconhecimento desejado.

A autora afirma ainda que as tecnologias podem até mesmo dificultar ou ocasionar uma sobrecarga de trabalho, principalmente quando há utilização de equipamentos obsoletos ou que não tem manutenção preventiva, gerando também uma sobrecarga emocional os trabalhadores, o que pode-se perceber na fala de Joana: “não digo que um aparelho novo não vai parar, mas quanto mais antigo, maior a probabilidade”. Dejours (2001) comenta que durante estas situações, muitas vezes o trabalhador não consegue avaliar se as falhas ocorridas nos equipamentos são decorrentes da sua incapacidade de lidar com eles ou devido aos problemas do sistema técnico. Estas situações geram angústia, medo e sofrimento, fazendo com que os profissionais não se sintam preparados para agir em situações que lhes exigem responsabilidade e competência.

Joana também concorda que os aparelhos do hospital são bem antigos, mas “tem se virar com o que tem, e apesar de velhos eles funcionam, mantém os pacientes vivos e isso é o que vale”. Conta que no hospital onde trabalhava antes os respiradores eram bem menores e podiam ser transportados de um lado para outro sem grandes dificuldades, e todos os outros aparelhos eram os mais novos que existem, o que tornava trabalho mais rápido, pois segundo ela, as tecnologias usadas em UTI são cada vez mais simples, portanto os aparelhos antigos do hospital são mais difíceis de lidar. Então, quando começou a trabalhar teve que ir aprendendo como funcionavam os equipamentos nesse ambiente, “fui montando e mexendo pra ver como era, precisa aprender e para isso tem que ter empenho”.

Martins (2000) aponta que para a prestação de serviços em saúde é necessário o preparo dos trabalhadores para manipularem as tecnologias disponíveis, pois elas precisam ser utilizadas adequadamente para que não tragam prejuízos aos pacientes e não causem tensão emocional naqueles que as manipulam, visto que muitas das instituições responsáveis pela profissionalização preparam os futuros trabalhadores para o uso das tecnologias de modo muito superficial. Esta informação não se aplica ao caso de Joana que relatou o intenso uso dos aparelhos em laboratório da universidade durante a formação, mas Tiago afirmou que no seu curso era dada uma maior ênfase aos cuidados com o paciente, sendo que os conteúdos relacionados às tecnologias só apareciam no último módulo do curso, destinado à UTI, principalmente durante o estágio. Além disso, ele comenta que “a teoria é bem diferente da prática, tem coisas que aprendi no curso mas que não se faz, e tem coisas que não aprendi, mas tem que fazer”.

Todos estes aspectos comentados pelos funcionários da UTI ao lidarem com as tecnologias em seu ambiente de trabalho vão ao encontro das afirmações de Furtado (2001), de que a realidade é um fenômeno multideterminado, possuindo assim um dinâmica objetiva, constituída por sua base econômica concreta, e uma dinâmica subjetiva, que engloba o campo dos valores. O ser humano então, constrói sua subjetividade social e historicamente, na relação com esta base material, mas esta construção é um processo individual e inseparável do sentido subjetivo que ação social tem para aquele indivíduo, resultando em um fenômeno específico, não apenas uma reprodução do meio.

Portanto, os trabalhadores da UTI que convivem no mesmo meio, lidando com os equipamentos que mantêm a vida dos pacientes, tem este ambiente como base concreta para a construção de sua subjetividade, mas cada um assimila e expressa estas experiências de maneira diferente, visto que a construção da subjetividade é individual e dela participam todos os aspectos objetivos da vivência do indivíduo, pois segundo Aguiar (2001), cada sujeito tem sua própria história, e por isso a subjetividade não reflete apenas o imediato.

Furtado (2001) aponta ainda, que no seu cotidiano o sujeito expressa a subjetividade de forma mais palpável, por isso ao observar as ações dos trabalhadores da UTI e questionar suas opiniões acerca do uso das tecnologias, percebe-se que estas constituem uma ferramenta indispensável, participando assim da relação com o trabalho e gerando sentimentos diversificados, que tornam-se parte constituinte da subjetividade destes profissionais.

O medo revelado ao lidar com os instrumentos e aparelhos na UTI, pode estar presente também em outras ocasiões, como no relacionamento entre diferentes profissionais, fator bastante comentado pelos trabalhadores. Por este motivo, torna-se importante a criação de um subcapítulo da análise destinado à descrição e comentário acerca das relações entre trabalhadores e o quanto isto também implica na subjetividade dos mesmos.

2.3 Relações de poder no cenário da UTI.

Dentro da UTI do Hospital Regional Alto Vale atuam vários profissionais, mas os que ficam mais presentes, principalmente no período noturno são os técnicos em enfermagem, uma enfermeira e um médico. Sobre o tipo de relacionamento estabelecido entre eles, Tiago afirma que os enfermeiros e técnicos pertencem à mesma classe, que é a enfermagem, por isso são mais unidos, e “separados dos médicos”. Apesar desta união, ele diz que existem alguns enfermeiros que “acham que são um pouco mais do que realmente são, e se aproveitam disso, humilham os outros”, mas segundo ele, ali no hospital isso não acontece, pois eles são realmente unidos. Sobre isso Revel (2002) comenta que o aumento da competitividade profissional leva a práticas individualistas que fazem com que muitos trabalhadores sofram verdadeiros “golpes” de seus colegas que vão desde fofocas mal intencionadas até acusações infundadas, bem como humilhações no sentido de questionar os saberes e competências de cada um e isso traz para os trabalhadores um sofrimento que não pode ser mensurado e que não cabe nas tabelas estatísticas, mas que se percebe pela perda de produtividade, aumento do número de doenças físicas e mentais, bem como da violência doméstica e urbana.

Mas esta relação de união entre a equipe descrita por Tiago muda um pouco em relação aos médicos, pois ele afirma que

“Já com os médicos é diferente, tem alguns médicos que se acham o todo-poderoso, e isso depende da personalidade da pessoa que ela traz para o ambiente de trabalho, né? Mas tem outros que são muito legais, não separam as pessoas da enfermagem dos médicos, e hoje em dia está tudo se modernizando e não pode mais ter esta diferenciação entre classes”.

Joana também comenta que “os médicos às vezes cobram porque a equipe de enfermagem não viu o que estava acontecendo, mas ele também não viu, então não pode cobrar”.

Sobre os conflitos descritos entre os médicos e a equipe de enfermagem, Foucault (2002) afirma que antes do processo de organização dos hospitais, a coordenação desta instituição estava centrada nas mãos dos religiosos que lá trabalhavam, pois o médico fazia apenas uma visita por dia para todos os doentes, mas a partir do século XVIII ele começa a estar cada vez mais presente, e o poder de organizar e comandar o funcionamento do hospital passa a ser do médico. Muda também enfoque do trabalho deste profissional, que antes consistia em atender as pessoas doentes em suas casas, e agora em ficar o maior tempo possível no hospital, passando a visitar todos os internados, acompanhado de enfermeiros e alunos. Percebe-se então, a transferência de poder das mãos dos religiosos para os médicos, pois o autor afirma que quem possui um saber, conseqüentemente possui poder, e foi o que aconteceu com o conhecimento do médico, que passa a ser uma ferramenta para exercer poder sobre os outros profissionais daquele contexto, fato que ainda pode ser percebido atualmente nas situações descritas pelos trabalhadores da UTI.

Martins (2000) comenta também que na divisão social do trabalho, é comum surgir uma certa rivalidade entre os indivíduos, pois os que estão em uma escala inferior, pretendem melhorar sua posição, e aqueles que ocupam uma escala superior procuram manter-se nesta posição. Esta busca para atingir status social e individual, afasta os trabalhadores, pois cada um busca aprimorar suas habilidades e capacidades somente no intuito de conseguir uma posição melhor na equipe, ao invés de compartilhar estas competências com seus colegas.

Codo (1993) ressalta ainda, que quando o sujeito trabalha em condições gratificantes, ele gosta do produto realizado, mas ao trabalhar subjugado, sente raiva do produto final de seu trabalho, e em certos momentos, manter um bom relacionamento com os superiores é uma obrigação profissional, na qual é preciso anestesiar o espírito e tolerar os comportamentos de um chefe qualquer. Mais uma vez percebe-se como o autoritarismo pode estar implicando em sentimentos negativos pelo trabalho, fazendo com que os funcionários suportem certas atitudes que não consideram corretas, o que fica bem claro na afirmação de Tiago de que “tem que considerar que é a personalidade da pessoa”.

Mas ao mesmo tempo em que queixam-se destas situações parece haver um certo conformismo ou tentativa de ver o lado positivo desta situação, pois Tiago afirma também que “ocorrem certos atritos que são comuns em qualquer local de trabalho”. Martins (2000) comenta que nas equipes de trabalho da UTI, como em qualquer outra equipe de trabalho, existem diferentes formações e níveis culturais, modificando assim os valores, a personalidade e a compreensão de mundo de cada sujeito, sendo que estas não devem sempre ser encaradas como algo ruim, pois em muitas situações podem contribuir para o crescimento do grupo e para novas reflexões, pois o conflito nem sempre é patológico, podendo levar a discussões geradoras de novas possibilidades para melhorar as formas de reagir aos problemas.

Assim como as relações conflituosas foram consideradas comuns a qualquer ambiente de trabalho, foi caracterizado como “normal” também o fato de lidar diariamente com a morte ou iminência dela no ambiente de trabalho. É importante, então, tecer alguns comentários e análises sobre o sentido que é dado à morte pelos trabalhadores da UTI.

2.4 A presença da morte e o sentido à ela atribuído.

Ariès (2003) comenta que atualmente a morte acontece como um fenômeno técnico, causado pela parada dos cuidados, de certa forma declarada pela equipe médica e do hospital, sendo que muitas vezes o enfermo já não está mais consciente. Ela é portanto, dividia em etapas, “dentre as quais, definitivamente, não se sabe qual a verdadeira morte, aquela em que se perdeu a consciência ou aquela em que se perdeu a respiração...” (ARIÈS, 2003, p. 86). Esta seria a morte na UTI, onde o doente está dependendo dos aparelhos para manter-se vivo e já não percebe mais o que se passa ao seu redor. Certamente, existem muitos casos onde a morte no hospital não ocorre necessariamente desta forma, ela pode acontecer de forma súbita e inesperada, até mesmo dentro da UTI, onde às vezes um paciente mostra um quadro de recuperação e de repente sua situação piora e a morte chega sem que se espere por isso. Mas também existem casos, relatados pelos próprios funcionários da UTI, onde o enfermo chega, é entubado e ligado aos aparelhos, mas já se imagina o que lhe acontecerá, sabe-se que ele não tem muitas chances de cura, então são prestados os cuidados, mas logo a pessoa acaba morrendo.

A mudança do ambiente da morte (que antes ocorria em casa, e atualmente acontece no hospital) e sua divisão em etapas apagaram a ênfase dramática da morte, fazendo com que ninguém mais tenha forças para ou paciência para esperar algo que já perdeu parte de seu sentido (ARIÈS, 2003). O autor comenta que a sociedade encara a morte de forma natural, mas para os trabalhadores da UTI, isso é enfrentado com ainda mais naturalidade do que a descrita pelo autor, pois Tiago afirmou que:

“a morte realmente tem que ser a coisa mais normal do mundo, e qualquer um que trabalha na enfermagem tem que ter isso em mente. Eu me dou bem com as coisas que preciso lidar, acho tudo a coisa mais normal do mundo, nenhum caso me tocou mais do que outro.”

Percebe-se então, que a emoção, bem como os rituais são deixados de lado com a chegada da morte. Outra reação percebida nos profissionais da UTI diante da morte, é o fato de acreditarem que todos tem sua “hora” para morrer. Tiago comenta:

“acho que cada um tem sua hora, e quando chega a hora da pessoa descansar, ela tem que ir. Muitos falam em coincidência, mas eu acho que se a pessoa tem que morrer, ela morre porque chegou o final da vida dela, apesar de a gente fazer de tudo para salvar a vida da pessoa”.

As afirmações de Joana também são um pouco parecidas, pois comenta que “quando uma pessoa tem uma parada, se é para ela viver ela reverte, se não é para ela viver ela não reverte, e se reverter ela pára de novo”. Ambos acreditam então que existe um tipo de “destino”, ao qual todos estão condenados, ou seja, quando chega a “hora”, por mais que as equipes da UTI façam tudo o que for possível, a pessoa vai morrer.

Martins (2000) aponta que os profissionais da enfermagem muitas vezes realizam atos mecânicos para fugir das ansiedades e para não pensar muito sobre o que acontece. Portanto, este argumento de que “chegou a hora”, pode ser utilizado para não sentirem-se culpados nos casos em que tentam reanimar um paciente mas não conseguem, pois se ficarem sempre pensando que poderiam ter realizado o processo de outra forma, ou se tivessem percebido a situação do paciente antes, ou ainda se tudo foi realmente feito da maneira correta, provavelmente não sentiriam-se muito bem, sendo que sempre ficaria um certo sentimento de culpa quando ocorresse a morte de um paciente. Se pensarem assim, que a pessoa morreu porque já era a “hora” dela, esse sentimento se apaga e o processo de trabalho segue normalmente, encarando o episódio como apenas mais um entre tantos outros que já se passaram.

Outro aspecto envolvido com a ocorrência da morte dos pacientes é o apego à uma religião para conseguir lidar com isso, pois Tiago afirma “sou católico, acredito em Deus, acredito que existe um ser maior, que criou tudo e comanda nossos limites, e quando chega a hora, Deus sabe o que faz”. E Joana também descreve:

“acredito que a questão religiosa está muito envolvida, eu sou kardecista, porque eu acho que isso me ajuda a dar conta destas coisas e me dá um bom suporte. Acredito que os outros funcionários também devem ter uma religião e se apegar a ela para conseguir lidar com tudo isso. E também tento passar isso pros pacientes, quando alguém está muito mal eu pergunto: Você acredita em Deus? Se ele disser que sim, eu digo: Então reza pra esse teu Deus te ajudar. Mas é uma questão muito individual”.

Lepargneur (1987) afirma que certos enfermos procuram dar um sentido para sua doença, e muitas vezes acabam explicando o sofrimento como sendo de natureza religiosa. Percebe-se que isto ocorre também entre os profissionais da UTI, que ao enfrentar situações onde o paciente encontra-se em estado muito grave, apegam-se à sua religiosidade como forma de explicação para isto, pois talvez seria difícil aceitar ou compreender porque certos pacientes que estavam bem, de repente pioram e não respondem mais ao tratamento, acreditando que isto seja a “vontade de Deus”. Quando fatos como este ocorrem, torna-se complicado também explicar ao enfermo o motivo que levou seu quadro a se modificar desta forma, e porque os medicamentos já não surtem o efeito desejado, e os funcionários acabam utilizando a religiosidade do paciente para confortá-lo neste momento.

De acordo com Martins (2000), a morte é um acontecimento até certo ponto esperado dentro da UTI, e apesar de os trabalhadores aprenderem a cuidar da vida e não da morte, acabam criando estratégias para lidar com isso, pois “ser um bom profissional, não quer dizer ser alguém desprovido de sentimento, medo angústia e dificuldade, [...], é ser capaz de assumir as dificuldades e ir em busca de soluções” (MARTINS, 2000, p. 92).

Sendo estes os principais dados levantados e analisados na presente pesquisa, faz-se necessário ainda, tecer algumas considerações finais acerca dos aspectos que apareceram de maneira mais intensa no discurso dos profissionais da UTI, o que será apresentado a seguir.

Considerações finais

Nesta pesquisa, buscou-se estudar as implicações na subjetividade dos trabalhadores da UTI do Hospital Regional Alto Vale frente ao uso das tecnologias em seu cotidiano de trabalho. Para isso, foram realizadas observações participantes, entrevistas individuais semi-estruturadas e a etnografia do cotidiano para coleta dos dados, que posteriormente foram analisados e interpretados com o auxílio bibliográfico, bem como através de compreensões da própria pesquisadora, resultando assim na produção de novos conhecimentos acerca deste tema tão presente na sociedade atual, que é a inserção das novas tecnologias nos ambientes de trabalho.

A inserção e utilização da tecnologia em um local de trabalho é algo que resulta em profundas mudanças no modo de realizá-lo, bem como nas relações estabelecidas entre profissionais, principalmente na UTI, onde a utilização dos instrumentos tecnológicos é parte fundamental do trabalho. Durante a atividade da coleta de dados, análise e interpretação dos mesmos, foi possível perceber que os trabalhadores da UTI da instituição especificada estabelecem uma forte relação de dependência entre suas atividades e as tecnologias, afirmando que a UTI só existe por causa dos aparelhos e que estes são grandes responsáveis pela manutenção da vida dos pacientes.

Percebeu-se também, que ao mesmo tempo que consideram a tecnologia importante, sentem medo que ela apresente falhas, complicando assim todo o seu processo de trabalho. Este medo, é um fato constante no exercício da profissão, fazendo com que eles não confiem totalmente nos aparelhos, verificando e checando várias vezes o seu funcionamento, para assim realizar suas tarefas de forma completa e satisfatória, resultando na melhora do estado de saúde dos pacientes e no seu reconhecimento profissional, o que lhes traz alegria e satisfação.

Mas nem sempre este objetivo é alcançado, e freqüentemente os funcionários precisam enfrentar a morte de seus pacientes, o que de acordo com eles, passa a ser algo “normal”, pertencente ao seu cotidiano. Para conseguir lidar com isso, os trabalhadores apegam-se à religiosidade ou à explicações de que cada pessoa “tem sua hora” para morrer, e quando esta chega, nada mais pode ser feito, apesar de todos os esforços exercidos por eles na tentativa de salvar vidas.

Outro fator comentado por eles são as relações estabelecidas no meio de trabalho, onde às vezes surgem alguns conflitos entre as equipes médicas e de enfermagem. Isto deve-se ao fato de serem profissões com posições diferentes na escala hierárquica, que possuem reconhecimento e valorização diferentes, sendo que aqueles que estão na escala inferior tentam ascender os que estão na superior querem manter sua posição. Este relacionamento conflituoso pode ser visto também em outros ambientes, mas não deve-se esquecer que pode gerar sofrimento e fadiga aos trabalhadores, pois ao trabalhar em condições gratificantes, o profissional encontra prazer e satisfação na realização de suas tarefas.

Percebe-se então, que a UTI é um ambiente onde os trabalhadores precisam lidar com acontecimentos complicados, onde precisam lidar com as limitações dos seres humanos e das máquinas. Por isso, explicam que para conseguir permanecer na profissão e vencer todos estes obstáculos, é preciso “gostar muito do trabalho”, e que este é um fator fundamental para continuar exercendo-o . Afirmam que a recompensa financeira não é tão grande, mas a realização pessoal ocorre através do aprendizado que adquirem lá dentro e com a recuperação dos pacientes.

Sabendo que a subjetividade se constrói em um processo social e histórico, onde o sujeito significa de maneira individual os aspectos do ambiente em que está inserido, resultando assim em um fenômeno único, percebe-se que a UTI é um local que gera muitas implicações na subjetividade dos profissionais que ali atuam, visto que diariamente defrontam-se com fatos que os levam à questionamentos pessoais sobre os aparelhos, a morte e as relações de trabalho.

Sabe-se que esta é apenas uma pequena contribuição teórica acerca do assunto, uma vez que ainda há muito o que ser estudado acerca das reações e implicações na subjetividade dos trabalhadores que lidam com tecnologia. É importante ressaltar, que muito mais poderia ser estudado no local onde esta pesquisa foi realizada, a UTI do Hospital Regional Alto Vale, e até mesmo nos outros setores do hospital, pois é um ambiente onde atuam muitos profissionais, que precisam lidar com situações onde muito lhes é exigido, seja em relação aos pacientes ou à outros profissionais.

Vale lembrar ainda, que esta instituição mostrou uma grande receptividade com relação à realização da pesquisa, o que facilitou o processo de inserção da pesquisadora no ambiente e o contato com os participantes, demonstrando assim, que apóia a realização de estudos que venham a produzir conhecimento que envolvam a difícil tarefa de salvar vidas.

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Notas

1. Subjetividade caracteriza-se por todas as expressões do homem (visíveis, invisíveis, singulares e genéricas); é a síntese singular e individual que cada pessoa constitui a medida que se desenvolve e vivencia experiências da vida social e cultural; é o mundo das idéias, significados e emoções construído internamente pelo sujeito, sendo também a fonte de suas manifestações afetivas e comportamentais, ou seja, é o modo de ser de cada um (BOCK et al, 1999). Regresar al texto
2. Por uma questão ética, foram criados nomes fictícios para ocultar a identidade dos participantes. Regresar al texto
3. Para maior destaque e diferenciação, todas as falas dos participantes foram formatadas em fonte tamanho 12, itálico e entre aspas. Regresar al texto
4. De acordo com Filgueiras e Hippert (2002), o conceito de estresse vem sendo amplamente utilizado pelos meios de comunicação, fazendo com que seja muitas vezes empregado no sentido do senso comum, no lugar de termos como cansaço, ansiedade, frustração, dificuldade, etc., passando a ser considerado o responsável pela maioria dos males que afligem as pessoas, principalmente os relacionados ao estilo de vida urbano. Percebe-se ainda que algumas classes profissionais mostram-se mais afetadas do que outras, o que deve-se provavelmente a preocupações quanto ao futuro nestes tempos de instabilidade econômica, baixa qualidade de vida e desemprego. É um termo usado tanto por leigos como por pesquisadores, sendo que entre os trabalhadores, o termo estresse é muitas vezes utilizado para nomear estados de ansiedade e aborrecimento. Regresar al texto




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